Título: Chevron enfrenta exigência para produzir mais nos EUA
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Fonte: Valor Econômico, 05/05/2008, Empresas, p. B7

Quando David O'Reilly assumiu o comando da Chevron Corp. em 1º de janeiro de 2000, o petróleo custava US$ 25,60 o barril.

Agora, o petróleo está mais de cinco vezes mais caro. A alta trouxe lucros recordes para a petrolífera de 129 anos descendente da Standard Oil, mas também trouxe problemas políticos com a reação dos consumidores que pagam mais para dirigir. A Chevron, assim como outras petrolíferas, tem sido cobrada para produzir mais petróleo e gás natural, e também para investir em mais fontes renováveis de energia.

Em 2001, O'Reilly, de 61 anos e natural de Dublin, na Irlanda, levou a Chevron à condição de gigante do setor ao adquirir a Texaco Inc., então a terceira maior petrolífera dos Estados Unidos. Em 2005, ele superou ofertas chinesas para comprar a californiana Unocal Corp.

Na semana passada, David O'Reilly sentou-se para discutir o futuro dos combustíveis e por que ele acredita que o mundo vai continuar a depender de eletricidade gerada com petróleo, gás natural, energia nuclear e carvão por muito tempo.

Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida pelo principal executivo da Chevron.

WSJ: A Chevron está num período de incrível lucratividade. O que o sr. diz aos consumidores que estão pagando mais caro a cada vez que param no posto para encher o tanque?

David O'Reilly: O preço do petróleo não é determinado por eles (consumidores locais). É determinado pela demanda total no mundo. A produção de petróleo (nos EUA) tem caído e estamos importando cada vez mais óleo. E estamos concorrendo por esse petróleo com as pessoas que estão importando para outros países para satisfazer suas necessidades. É isso que está aumentando o preço na bomba hoje.

WSJ:Num discurso em 2005, o sr. disse: 'A época em que poderíamos contar com petróleo e até gás natural baratos está obviamente no fim'. Então, o petróleo estava a US$ 47 o barril. Hoje, está perto de US$ 120. Mais alguma previsão?

O'Reilly: Se acho que o mercado vai subir muito além de onde está hoje? Não, provavelmente não. Você está vendo o impacto dos preços mais altos sobre a demanda. Por exemplo, aqui nos EUA tivemos uma pequena queda da demanda por gasolina no primeiro trimestre do ano. Os preços estão mais altos. As pessoas estão usando gasolina mais eficientemente. Veículos grandes estão vendendo menos. Automóveis carros e mais eficientes estão vendendo (melhor). O mercado está nos dizendo que a essa mudança de comportamento é necessária e acho que estamos começando a vê-la, mas precisamos ver isso acontecer mais.

WSJ: Em que faixa de preço o sr. acha que o petróleo vai ficar?

O'Reilly: Não posso prever preços. Você teria de me dizer qual vai ser a situação econômica do mundo daqui a um ano. Não acho que vão voltar para os níveis relativamente baixos que tivemos no fim dos anos 90 e início dos 2000.

WSJ: Nunca?

O'Reilly: Nunca.

WSJ: O sr. tem falado sobre as pessoas precisarem poupar mais combustível. Que tipo de carro o sr. tem?

O'Reilly: Tenho um (sedã) Cadillac STS e ele é mais eficiente do que o meu anterior, que era um (SUV) Escalade. Não uso o Prius, se é o que você quer dizer.

WSJ:O consumo de gasolina caiu nos EUA. O sr. vê sinais de que isso está acontecendo também em outros lugares?

O'Reilly: Não. Eu estava na Turquia dois meses atrás. A gasolina lá custa quase (US$ 3 o litro). A venda de automóveis está batendo recordes no país. O tráfego é congestionado em toda Istanbul. Se você passou de uma bicicleta para uma moto ou de uma moto para um carro, você não se importa de pagar (US$ 3) porque o benefício para seu estilo de vida é enorme. Não é que esses carros sejam beberrões, eles são eficientes, mas mesmo carros eficientes precisam de gasolina.

WSJ: Num encontro com ministros da Fazenda de vários países este mês, os biocombustíveis foram um destaque. O ministro da Índia disse: 'Quando milhões de pessoas passam fome, é um crime contra a humanidade que alimentos sejam desviados para combustíveis'. O ministro da Turquia disse que isso é "apavorante". Eles estão certos?

O'Reilly: Faz sentido. Assim como o petróleo, a demanda por alimentos está crescendo (...) no mundo. É impossível concluir que os biocombustíveis não estão tendo nenhum impacto na situação do abastecimento de alimentos quando 30% do milho colhido nos EUA está indo para combustíveis.

WSJ: É moralmente justificável continuar a usar tanta produção agrícola para combustível de transporte?

O'Reilly: Bom, não quero fazer julgamentos morais sobre isso. Estamos a caminho de dobrar ou mais do que dobrar a produção e consumo de álcool (nos EUA), e isso é o que a lei determina. Acho que isso deveria ser revisto e revisto pelas pessoas que conhecem melhor a situação do abastecimento de alimentos. Conheço bem petróleo e gás. Não sou especialista em alimentos.

WSJ: Qual o papel da Chevron no desenvolvimento de combustíveis alternativos?

O'Reilly: Desde que somos tão envolvidos no negócio de combustível para transporte, acho que nosso papel é tentar encontrar uma fonte não-alimentar de biocombustível que possa dar uma contribuição palpável em escala (comercial), porque se não houver escala