Título: Rússia investe para turbinar sua produção de carne suína
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2008, Agronegócios, p. B10

A Rússia acelera um programa para aumentar sua produção de carne suína, que já tem impacto nas exportações brasileiras para aquele que é seu principal mercado. Maxim Medvedev, vice-ministro de comércio, disse ao Valor que a modernização do setor tem subsídios "pequenos e totalmente legais", enquanto produtores prometem substituição crescente das importações.

Mais de uma centena de grandes projetos de construção ou reformas foram declarados à Associação dos Produtores Russos, com investimentos estimado em US$ 5,9 bilhões para cinco anos.

O governo oferece juros baixos por até oito anos para construção e modernização de fazendas de suínos. Dois terços dos juros são subsidiados pelo governo federal. O outro pode ser subvencionado pelo governo estadual. A importação de máquinas e equipamentos é livre de tarifas. O entusiasmo ocorre mesmo no rastro de preços de concreto e metais que subiram mais de 30% em 2007, além de fatura maior para gás natural e água.

Somente a Miratorg, principal empresa russa importadora de carne - sócia da Sadia na fábrica mantida pela empresa brasileira na Rússia -, tem um projeto agrícola de US$ 1 bilhão entre 2005-2009, com ênfase na carne suína, a mais cara e com elevada demanda no país. Empresas da Dinamarca (Novosvin, Dan-Invest, Danrus Agro, Avgas), da França (Sucden, PHG Investments), da Espanha (Campofrio) e da Lituânia (Vilke) também investem no segmento.

O objetivo russo é dobrar o rebanho interno de suínos, de 16 milhões de cabeças em 2007 para 30 milhões até 2010. Os russos querem animais com mais carne.

A associação dos produtores estima que as novas fazendas devem aumentar a produção suína de 90 mil toneladas em 2006 para 500 mil toneladas em 2009. E leva seu entusiasmo às alturas, prevendo que "dá para sonhar" em passar de importador líquido para futuro exportador em alguns anos.

Medvedev, que coordena a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC), minimiza o impacto ao Brasil. "A produção é para consumo direto, enquanto as importações são para a indústria, e isso continuará".

No entanto, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, mostra que após 2005, quando o programa russo começou, Moscou está regulando mais as importações. Desde então, as exportações brasileiras declinaram, passando de 404,6 mil toneladas em 2005 para 278,7 mil em 2007. Representavam 65% do total exportado e agora ficam em 46%, o que também significa reduzir a dependência do mercado russo.

"A Rússia tem usados restrições sanitárias para regular o comércio", diz Camargo Neto. "Até hoje nenhuma fábrica de Santa Catarina está habilitada a exportar, em desrespeito às regras da Organização Internacional de Saúde Animal". Santa Catarina é o único Estado do país com status de livre de febre aftosa sem vacinação.

Sua esperança é de que a entrada da Rússia na OMC dificulte esse tipo de procedimento, pois o acordo SPS (medidas sanitárias e fitossanitárias) cria fórum para reclamações. Obriga ainda a Rússia a cumprir com o cronograma de desgravação tarifária com o qual se comprometeu na OMC. "Infelizmente o Brasil negociou mal as cotas de acesso, ficando a União Européia privilegiada e o Brasil tendo que dividir o comércio em outras origens", lamenta o dirigente.

Da cota total de 493,5 mil toneladas deste ano, Moscou reservou 250 mil para a UE, 48,8 mil para os EUA e as 194,4 mil restantes para outros países. Para 2009, a cota sobe para 502 mil toneladas, com 253 mil para a UE, 50,7 mil para os EUA e 197,1 mil para "outros".