Título: Grupo Atlântica aposta em café robusta em MG
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2008, Agronegócios, p. B10

O grupo Atlântica, empresa exportadora de café verde, vai começar a investir neste ano no plantio de café robusta em Minas Gerais - o principal reduto do grão tipo arábica do Brasil. Os primeiros viveiros dos grãos serão plantados em Pirapora, na região norte do Estado.

"Nosso projeto é plantar de 800 a 1.000 hectares de café robusta irrigado em nossa fazenda, totalizando cerca de 3,5 milhões de árvores", diz Rogério Schiavo, um dos sócios da Atlântica.

Criada em 2000, a Atlântica é controlada pelo empresário Ricardo Tavares, que tem 60% de participação no negócio. De tradicional família de cafeicultores, Tavares foi presidente da Sucos Mais, vendida há três anos para a Coca-Cola. Seu pai, Aprigio Tavares, era dono da torrefadora Três Corações, que está nas mãos do grupo israelense Strauss-Elite desde 2000. Outros 20% pertencem a Schiavo, de família de cafeicultores. E o restante pertence ao empresário Rodrigo Monte Santo.

A decisão da empresa de investir na produção de café foi tomada este ano. Para isso, o grupo criou um braço agropecuário, que deverá focar os negócios em café robusta, florestas e banana.

Segundo Schiavo, a Atlântica vai plantar variedades do tipo robusta de alta produtividade e investir em lavouras irrigadas. "Os primeiros pivôs serão instalados até o final do ano."

"A região do norte de Minas tem condições climáticas parecidas com a do Espírito Santo [maior produtor de café robusta do país]. Há como garantir uma produtividade de 120 sacas por hectare [a média nacional é de 20 sacas por hectare]", acrescenta Schiavo. Para viabilizar os negócios de café, a empresa está se associando ao cafeicultor Edmundo Aguiar, que possui fazendas em Pirapora e tem tradição no plantio de arábica na mesma região.

A fazenda adquirida pelo grupo em Pirapora, afirma Schiavo, tem 3.000 hectares de área agricultável. Um terço desta área será ocupado com café. Cerca de 500 hectares serão destinados a florestas, para o plantio de mogno africano e cedro australiano. "Vamos exportar a madeira", diz. Outros 150 hectares serão ocupados por banana. O restante será destinado à pecuária. Com um faturamento de cerca de R$ 100 milhões, a Atlântica exportou em 2007 cerca de 350 mil sacas de café verde. "Nossa meta é crescer 30% este ano". O grupo projeta embarques de 400 mil a 450 mil sacas de café em 2008.

Minas Gerais é o maior Estado produtor de café do Brasil, respondendo por mais de 50% da oferta nacional. A produção no Estado está concentrada no sul e região do cerrado. O norte de Minas, onde domina a pecuária, tem pouca tradição em café.

Os investimentos em café robusta, de qualidade inferior ao do arábica, começaram a ganhar notoriedade nos últimos meses no país porque este tipo de grão tem registrado melhor rentabilidade que o arábica. Seus custos de produção também são inferiores aos do arábica. Na sexta-feira, a saca de 60 quilos do café arábica encerrou a R$ 247,22, valorização de 13% em 12 meses no mercado interno. A saca do robusta encerrou a R$ 208,50, com alta de 16,4%.

No Espírito Santo, a colheita de robusta começou há algumas semanas. Minas deve dar início aos trabalhos este mês. Para financiar a safra de café nacional, o governo federal vai liberar R$ 2,16 bilhões, oriundos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé). Do total, R$ 453 milhões serão para custeio; R$ 496 milhões para colheita; R$ 898 milhões para estocagem; e R$ 313 milhões para aquisições seus estoques.