Título: Cúpula espera que Virgílio saia do partido
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, Política, p. A11

O PT não punirá, por enquanto, o deputado Virgílio Guimarães (MG), que lançou candidatura avulsa à presidência da Câmara, prejudicando o candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh. A cúpula do partido acredita que Virgílio, ao manter sua candidatura até o fim, tomou uma "decisão histórica" - a de romper com o PT. "Não há mais volta. Virgílio fez opção para sair do partido", disse um dirigente petista. É justamente por acreditar que o deputado mineiro está virtualmente fora do PT que a direção da sigla decidiu não tomar nenhuma providência neste momento. "Por que vamos nos desgastar? Ele é quem deve tomar uma atitude antes que façamos alguma coisa", explicou um petista. Na sexta-feira passada, o presidente do PT, José Genoino, teve uma longa conversa com Virgílio para tentar convencê-lo a retirar a candidatura. Genoino bolou duas saídas honrosas para o petista dissidente: dar uma entrevista coletiva, ao lado dos principais dirigentes do PT, anunciando a renúncia à candidatura ou desistir do pleito no plenário da Câmara, antes de a eleição começar, em nome do "projeto nacional do PT". O deputado mineiro recusou as duas ofertas. "O problema é que fui longe demais", comentou Virgílio, segundo um parlamentar que testemunhou o encontro dele com Genoino. Ontem, o presidente da Comissão Mista de Orçamento, deputado Paulo Bernardo (PT-PR), defendeu a punição de Virgílio. "Tem que haver punição. Não justifica o comportamento dele. Nos desgastou tremendamente. A posição dele não pode ficar sem conseqüência", disse Bernardo. Apesar da reação de alguns colegas, os petistas mineiros que apoiaram a candidatura avulsa de Virgílio prometem resistir e já marcaram uma plenária de avaliação do processo. A reunião será em Belo Horizonte no dia 5 de março. O encontro entre deputados, vereadores, prefeitos e membros de diretórios municipais será, na prática, um ato de solidariedade ao deputado federal mineiro derrotado na disputa. "Qualquer punição ao Virgílio teria de ser aplicada também a todos nós", afirmou o deputado estadual Rogério Corrêa, um dos principais defensores da candidatura avulsa em Minas Gerais. Segundo ele, 80% dos petistas mineiros apoiaram Virgílio. "Não aceitaremos nenhum tipo de punição." A avaliação do PT de Minas é de que Virgílio Guimarães saiu fortalecido do processo, especialmente junto à base eleitoral. "Ele se elegeria hoje para qualquer cargo majoritário", aposta Corrêa. "Hoje ele é um nome mais forte do que era antes." O deputado estadual acredita que o deputado derrotado na disputa à presidência da Câmara será o nome mais viável para disputar o Senado na próxima eleição. Poderá ser também o nome do partido numa possível composição com o PL para disputar o governo do Estado contra o atual governador Aécio Neves (PSDB). Ele seria, acreditam seus aliados mineiros, um bom vice para a chapa que seria encabeçada pelo vice-presidente José Alencar (PL). "Seria uma catástrofe para o PT de Minas (a saída do Virgílio)", afirmou o deputado estadual. Para Corrêa, seria mais útil ao PT nacional, em vez de pensar em possíveis punições ao deputado mineiro, aproveitar a liderança que Virgílio Guimarães demonstrou ter dentro do Congresso. "Deveriam é recompor com o Virgílio e dar a ele um papel de articulador do governo junto a esse grupo que elegeu a presidência da Câmara." Apesar de estar compreensivelmente magoado com a executiva nacional do PT, o próprio Virgílio Guimarães não estaria disposto a deixar o partido, diz o colega mineiro. "Ele não vai perder a cabeça e abandonar um projeto maior." Presidente do diretório estadual do PT, a deputada federal Maria do Carmo Lara discorda da avaliação de mineiros como Rogério Corrêa. A deputada votou a favor de Eduardo Greenhalgh na disputa interna do partido, contrariando a bancada mineira. Segundo ela, a culpa do que ocorreu na Câmara não foi de uma única pessoa mas Virgílio tem sim sua parcela de responsabilidade. "Temos de tirar a lição para refletir com tranqüilidade." (Com agências noticiosas)