Título: PT quer João Paulo líder para minar poder de Aldo
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, Política, p. A11

Abalado pela derrota sofrida na disputa da presidência da Câmara, o PT deverá reforçar sua liderança na Casa e pressionar o Palácio do Planalto a mudar a articulação política do governo. Para as duas funções, desponta, quase como um consenso na cúpula do partido, o nome do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP). A avaliação dos petistas é que, sem representação na Mesa Diretora da Câmara, o PT e o governo precisam de lideranças fortes e expressivas, com trânsito tanto nos partidos da base aliada ao governo quanto nas siglas de oposição. "Precisamos dialogar com todas as forças políticas", comentou um dirigente do PT. João Paulo, na avaliação de seus colegas de partido, reúne hoje as condições para cumprir bem a tarefa. Os petistas lembram o exemplo de Luiz Eduardo Magalhães, que presidiu a Câmara de 1995 a 1997. Quando deixou o posto, Luiz Eduardo, que era do PFL, recebeu a oferta do então presidente Fernando Henrique Cardoso para ocupar o ministério que desejasse. O deputado baiano, morto em 1998, optou pela liderança do governo na Câmara. "Enquanto Luiz Eduardo foi presidente da Câmara e líder do governo, Fernando Henrique não sofreu uma derrota sequer no Congresso", lembra um parlamentar do PT. Esse mesmo petista menciona que João Paulo deixou a presidência da Câmara "aclamado" por seus colegas, inclusive, dos partidos não-aliados ao governo. "Ele foi aplaudido demoradamente na despedida", cita um deputado. O PT avalia também que, no novo cenário, é imperativo que a coordenação política do governo volte para o partido. O argumento é o de que o ministro Aldo Rebelo, do PC do B, não conseguiu se "aproximar" da bancada do PT na Câmara. Aldo teria tido dificuldades também para lidar com outras bancadas, como a do PTB, que tem quase cinco vez mais deputados que o PC do B. Diante disso, o ministro teria tido dificuldade para liderar a base aliada. Até o momento, no entanto, tirar Aldo Rebelo da Coordenação Política é apenas um desejo do PT. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gosta do ministro, integrou-o ao núcleo do poder em Brasília e tem resistido a todas as pressões para substituí-lo. A cúpula do PT acha que o cenário mudou - antes, argumentam os dirigentes petistas, havia apenas o interesse do partido em retomar a coordenação política; agora, seria para o bem do governo, uma "necessidade política". Mais uma vez, o nome de João Paulo Cunha é citado pelo PT como ideal para o cargo de ministro da Coordenação Política. Além de vencer a resistência do presidente Lula, que ainda prefere manter Aldo Rebelo no cargo, o PT terá outra difícil missão pela frente: convencer João Paulo a desistir da candidatura ao governo de São Paulo em 2006. Há duas razões para isso. Se mantiver sua postulação, João Paulo levará novamente para dentro do Congresso a disputa que tem com o senador Aloizio Mercadante, líder do governo no Senado, pela indicação do PT à sucessão do governo paulista. Nos últimos dois anos, essa disputa trouxe prejuízos para a articulação política do governo. "O João Paulo vai ter que desistir dessa candidatura. O Lula já disse que não abre mão de ter o Mercadante para o governo de São Paulo em 2006", comenta um petista com trânsito no Palácio do Planalto. Pesam na disposição de Lula a longa amizade com Mercadante, a densidade eleitoral do senador (ele foi eleito com mais 10 milhões de votos em 2002) e o fato de que, no Senado, a sucessão da Mesa foi tranqüila e favorável ao governo.