Título: Cresce disputa pela liderança do PMDB
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, Política, p. A12

O PMDB vive uma crise para definir seu líder em 2005. Em dois dias os dois postulantes à vaga foram declarados, oficialmente, líderes. A tendência é que ocorra uma reunião no dia 23, para oficializar, com votação secreta, a liderança da sigla. A disputa entre o governista José Borba (PR) e o oposicionista Saraiva Felipe (MG) aumentou depois que o partido recebeu a filiação de mais seis deputados, chegando à maior bancada com 94 parlamentares e equilibrando a disputa interna, que até o começo da semana estava sendo ganha pelos oposicionistas. A disputa da liderança é considerada essencial dentro do partido. A ala oposicionista, liderada pelo ex-governador e atual secretário de governo do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, espera minar a maioria governista que existia no ano passado na Câmara como forma de pavimentar sua candidatura à Presidência pelo partido em 2006. Estima-se que entre 20 e 35 deputados são de sua quota pessoal. Por outro lado, o governo conta com o PMDB no Congresso, principalmente depois que o partido perdeu a presidência da Casa. Nos bastidores há deputados que defendem, inclusive, que a ala fiel a Lula ganhe mais um ministério, para que possa evitar futuras deserções. Dos seis novos deputados pemedebistas, cinco são considerados governistas. Essa movimentação, orquestrada por Borba, põe em risco a situação de Saraiva, já considerado líder depois que o partido apresentou à mesa diretora da casa, na terça-feira, uma lista com o apoio de 48 deputados ao seu nome. No momento da apresentação da lista, o PMDB contava com 88 deputados. Oficialmente seu nome aparecia ontem como líder. Entretanto isso deve mudar hoje, já que Borba apresentou na tarde de ontem uma lista com o apoio de 49 deputados. "Essa lista foi apresentada ao presidente da Câmara que se comprometeu a confirmar Borba na liderança", afirmou o deputado Wilson Santigo (PB), vice-líder de Borba. Para conseguir essa nova lista, Borba somou os novos deputados, fez com que alguns mudassem de posição e obteve apoios polêmicos. Para obter o apoio de André Luiz (RJ), Borba teria se comprometido a tentar absolver o deputado, suspeito de receber propinas para evitar que alguns nomes fossem indiciados em uma comissão de inquérito da Assembléia Legislativa fluminense. Outro apoio polêmico foi a filiação de Ronivon Santiago (AC) ao partido. O deputado foi acusado de receber R$ 200 mil para votar a favor da emenda constitucional que permitiu a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Não teremos reunião para definir o líder, isso já foi decidido em dezembro, quando o partido reconduziu Borba e foi reforçado agora com a nova lista", disse o deputado Wilson Santiago. A tendência, contudo, é que a reunião ocorra, já que ela foi convocada por Saraiva enquanto ele ainda era oficialmente líder. Pela tradição do partido, a escolha do líder é feita por voto secreto. A avaliação é que Saraiva vence nesta eleição, porém perde se forem adotados processos abertos de escolha, como listas ou eleições com votos conhecidos. Não está descartada a possibilidade de que novas filiações ocorram no partido para tentar mudar o atual equilíbrio da bancada, pois nenhum dos dois lados conta com apoios sólidos. Para evitar uma forte migração governista, o presidente da sigla, deputado Michel Temer (SP), encaminhou um ofício ao presidente da Casa para tentar evitar que as novas filiações ocorram sem a autorização da presidência do partido. "Há filiações apenas para efeito numérico, sem muitas vezes, ligação de natureza ideológica e programática com o partido", afirmou Temer no ofício. Essa situação, contudo, é considerada ilegal, pois apenas reuniões de executivas dos partidos podem impugnar filiações.