Título: Argentina cresce 8,8% em 2004 e mantém ritmo forte
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, Internacional, p. A13

A economia argentina encerrou o ano passado com um forte crescimento, repetindo o desempenho de 2003 na continuação do processo de recuperação depois do colapso econômico de 2001. Segundo números preliminares divulgados ontem, em 2004 o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 8,8%, mesma taxa registrada no ano anterior. Os dados são referentes a um indicador mensal prévio que geralmente traz cifras similares ao PIB trimestral, que será divulgado no final do mês que vem. O forte crescimento registrado no final do passado abre a perspectiva de um ritmo intenso também no começo deste ano. A maioria dos analistas afirma que a economia deve crescer ao menos 5,5% em 2005, e alguns já falam em taxas superiores a 6%. Depois da divulgação do dado ontem, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, afirmou que, graças aos novos indicadores, o governo poderá revisar sua previsão de crescimento, mas não o fará de maneira imediata. O governo elaborou o Orçamento de 2005, já enviado ao Congresso, partindo de uma estimativa mais conservadora de crescimento para o ano, de 4%. "Não vamos mudar a previsão oficial hoje, mas efetivamente todas as estimativas do setor privado estão apontando para um crescimento maior. Isso implica em uma aceleração do processo de recuperação", disse Lavagna. "É possível que tenhamos de fazer um ajuste nesses números, mas o faremos de um modo gradual", afirmou o ministro. Como contraponto à boa notícia que o dado representa para a Argentina, vale lembrar que o crescimento dos últimos dois anos coloca a economia do país em um nível similar ao de 1998, quando começou o longo ciclo recessivo que resultou em uma perda de mais de 20% da riqueza. Em dezembro, o crescimento em relação ao mesmo mês do ano anterior foi de 9,2%, e a expansão na comparação com novembro foi de 0,6%. A maioria dos analistas acredita que o ritmo de expansão seguirá forte, ao menos na primeira metade do ano. Isso apesar da alta da inflação, que no mês passado chegou a 1,5%, e à fadiga de alguns setores industriais, que tem limitada sua capacidade de crescer porque já estão próximos ao limite do uso da capacidade instalada. Apesar dessa limitação, a expectativa é que o setor industrial argentino tenha iniciado o ano com uma expansão de cerca de 8% em janeiro, depois de um crescimento acumulado de 10,7% no ano passado. Os dados da produção industrial de janeiro devem ser divulgados hoje pelo Indec, órgão de estatísticas ligado ao Ministério da Economia. O prognóstico é que o ritmo de crescimento possa ser mantido em percentuais altos graças a uma recuperação parcial da taxa de investimentos e ao aumento das vendas das montadoras de veículos, nas quais ainda há muita capacidade ociosa. Outro fator que tende a beneficiar as exportações da Argentina é a vantagem competitiva do peso em relação ao real brasileiro, com a moeda argentina sendo debilitada com compras constantes de dólares pelo banco central. Ontem, o dólar fechou o dia cotado a 2,91 pesos. A contrapartida da vantagem competitiva do peso é que, com sua moeda mais débil, os argentinos terão de pagar mais pelos bens brasileiros.