Título: Estrangeiro novato buscará ações mais líquidas, diz Banif
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2008, EU & Investimentos, p. D2
O Índice Bovespa poderá atingir 82 mil pontos ainda no fim deste ano. Isso representa um potencial de alta de 16,85% ante o fechamento de 70.174 pontos do Ibovespa no pregão de ontem. A projeção leva em conta a obtenção da nota de grau de investimento ("investimento grade") atribuída pela Standard & Poor's, e foi calculada pela área de análise da Banif Securities.
Os setores que ganham com o selo de investimento não-especulativo, no início, devem ser o financeiro e o de construção civil. Mas serão as ações com maior liquidez em cada um desses segmentos as maiores beneficiadas. Isso porque os novos recursos, avalia a instituição, irão à procura de liquidez. Se um fundo de pensão com US$ 1 trilhão aplicar 0,1% de seu patrimônio no Brasil, estará destinando R$ 1 bilhão para cá, exemplifica Catarina Pedrosa, analista-chefe e estrategista de América Latina do Banif Investment Bank. Se esse fundo resolver diversificar em dez papéis, estará aplicando R$ 100 milhões em cada uma dessas ações. "Isso quer dizer que esse fundo de pensão terá de buscar as ações mais líquidas em cada setor, pois para ele não adianta investir num papel que negocia R$ 70 milhões por dia", lembra Catarina.
A perspectiva de alta do principal indicador do mercado brasileiro de ações leva em conta algumas mudanças por conta da melhora da nota do país e seu efeito sobre as empresas. Espera-se um aumento de liquidez, já que o selo deve atrair muitos fundos de pensão americanos que antes não podiam aplicar aqui. Outro reflexo é o aumento dos lucros das empresas por conta do dinheiro mais barato. Além disso, deve contribuir para melhores resultados a expectativa de queda do dólar. "Com isso, as despesas financeiras das empresas ficariam menores e, assim, o lucro deve crescer mais", diz Catarina.
Não por acaso, a área de análise do banco projeta um Preço/Lucro -P/L, referencial que estima em anos o tempo de retorno do investimento na ação e, portanto, quanto menor, melhor para o investidor - de 12,6 vezes para o Ibovespa no fim deste ano, para 16 vezes atualmente. A queda do P/L seria provocada pelo aumento do lucro das empresas. As estimativas para o P/L dos próximos anos usam as projeções do lucro das companhias para 2008 e 2009. "Se olharmos o P/L médio de um país considerado grau de investimento, iremos ver que há bastante espaço para o Ibovespa se valorizar", avalia Catarina. O valor de 12,6 em dezembro seria superior somente ao da África do Sul, Rússia e Hungria.
Por conta de lucros maiores projetados para as empresas, o P/L de 2009 do Ibovespa cairia para 10,5 vezes, deixando o mercado brasileiro ainda mais atrativo. E bem abaixo da média do PL dos países grau de investimento emergentes, de 14,3%.
Segundo o relatório, os segmentos perdedores devem ser, provavelmente, os das empresas exportadoras, já que deverá haver uma nova valorização do real, levando a um aperto das margens. Já entre as ações mais líquidas de cada setor, a área de análise da Banif lista entre os bancos os papéis do Banco do Brasil, Bradesco e Itaú, que têm maior capilaridade no país. Em energia elétrica, as maiores beneficiadas no curto e médio prazos devem ser Cemig, Tractebel e Copel, favorecidas com os maiores preços de energia no mercado livre e menor custo de capital devido ao "investment grade". Em alimentos, os destaques ficam com Marfrig e JBS, que, na opinião da instituição, podem se beneficiar, já que possuem flexibilidade para realocar parte das exportações para as plantas fora do Brasil, escapando da valorização do real.