Título: Usiminas importa aço para reduzir perda de mercado
Autor: Jorge , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2008, Empresas, p. B6

A Usiminas vai importar pelo menos 50 mil a 70 mil toneladas de aço galvanizado neste ano para atender os seus clientes no mercado doméstico, que tem apresentado incremento de demanda acima do esperado. A aquisição de produtos HDG (galvanizado a quente), como são denominados, faz parte da estratégia da siderúrgica para preservar a sua liderança nesse segmento, mas não está descartados o aumento dos volumes importados e a compra externa de outras modalidades de aço, segundo Sérgio Leite, superintendente de marketing da empresa.

A necessidade de compras externas é fruto do forte aquecimento da demanda doméstica por aço, que vem superando as expectativas do setor. No primeiro trimestre, de acordo com Leite, o mercado interno cresceu 19%, praticamente o dobro do índice que havia sido estimado pelo pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) no fim de 2007. Como a Usiminas não deve concluir sua expansão de capacidade nessa linha de produtos em três anos, as importações buscam assegurar a liderança da siderúrgica.

De qualquer forma, Leite prevê uma redução da participação geral de mercado da empresa no país, que deverá se situar entre 48% e 50% neste ano, ante os 52% verificados na média dos três últimos exercícios.

A mesma estratégia poderá ser adotada pela Usiminas para atender outros mercados. "Este é um assunto que está em discussão e provavelmente deverá acontecer, mas no momento o que temos de concreto é a decisão de importar um volume na faixa de 50 mil a 70 mil toneladas", afirmou Leite. Segundo ele, alguns embarques de HDG já chegaram ao país, por meio de despachos da Nippon Steel, uma das controladoras da Usiminas e sócia da empresa na Unigal - a unidade de galvanização da siderúrgica que atende os fabricantes de automóveis, eletrodomésticos e construção civil. Há um plano de expansão da Unigal em 500 mil toneladas ao ano.

No ano passado, a Usiminas teve também de recorrer ao mercado externo para suprir clientes no Brasil, importando um volume de 15 mil toneladas do produto. Chegou a importar também boa quantia de chapas grossas.

A Usiminas se prepara igualmente para inaugurar a exportação de minério de ferro por meio do terminal portuário da Cosipa, em Cubatão. Está programada, para o próximo ano, o primeiro embarque de 500 mil toneladas da recém adquirida Mineração J. Mendes. Mas os planos são mais audaciosos e prevêem melhorias e investimentos pontuais no porto da Cosipa para permitir ampliar os embarques da matéria-prima.

"Com dragagem adicional, aumentando a profundidade de 12 para 15 metros, e outros pequenos investimentos, poderemos embarcar até 15 milhões de toneladas", afirmou Paulo Penido Marques, diretor de finanças e relações com investidores da siderúrgica. Mas os planos da Usiminas prevêem também exportar minério pelo porto de Sepetiba (RJ), controlado pela Vale do Rio do Doce. "Estamos negociando com a Vale o aumento dos embarques, pois pretendemos manter um mix de exportação por meio de Sepetiba e do porto da Cosipa", disse o executivo.

A J. Mendes, segundo ele, apresentou lucro líquido de R$ 10 milhões no primeiro trimestre e uma geração de caixa (Ebitda) de R$ 16 milhões, perfazendo uma margem de 47%. A mineradora também já está operando ao ritmo de 5 milhões de toneladas anuais e o seu desempenho financeiro só não foi melhor em decorrência dos contratos vigentes, que tem um preço de minério defasado.

Em mineração, a Usiminas tem pretensões agressivas, conforme Penido. O plano de exploração dos ativos minerais adquiridos pela siderúrgica em fevereiro deste ano, cujas reservas montam a 1,4 bilhão de toneladas, é atingir 29 milhões de toneladas/ano. Desse total, 16 milhões serão exportados. "A Usiminas planeja estar presente nesse mercado internacional de minério de ferro, primeiro como uma forma de proteger suas compras do produto para a usina de Ipatinga", afirmou Penido. O material é comprado da Vale e continuará dessa forma por questão logística.

Com vendas de 1,88 milhão de toneladas de aço, a Usiminas obteve receita líquida de R$ 3,55 bilhões no primeiro trimestre, 7% acima do verificado no mesmo período do ano passado. O lucro líquido da empresa, por sua vez, ficou praticamente estável - R$ 646 milhões entre janeiro e março de 2008, ante R$ 642 milhões nos mesmos meses de 2007.

Enquanto as vendas no mercado doméstico subiram 11%, as exportações caíram 36%, comparado com um ano atrás. Sobre preços, a previsão é que ele se mantenham internacionalmente elevados nos próximos meses, segundo Renato Vallerini, diretor de comercialização para mercado externo. "Não há nenhum sinal de que as cotações irão se arrefecer", disse o executivo. Segundo ele, isso se deve à queda livre das exportações mundiais e ao custo de matérias-primas em ascensão, com destaque para o minério de ferro e o carvão.