Título: Dólar pode cair abaixo de R$ 1,60
Autor: Perini Lucchesi Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2008, Finanças, p. C3
A taxa de câmbio pode chegar a R$ 1,60 ou até mesmo a R$ 1,55 no curto a médio prazo, como impacto do grau de investimento concedido ao Brasil pela Standard & Poor's no dia 30 de abril. Fechou ontem a R$ 1,658. O Morgan Stanley e o Barclays Capital reviram para cima suas previsões para o real no final deste ano, enquanto o Bradesco e WestLB mantiveram as suas. Os analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Valor foram unânimes em frisar que a valorização do real tende a ser gradual e descartaram uma enxurrada de dólares entrando no país, ainda mais em um cenário de série crise externa.
"O grau de investimento é boa notícia para o câmbio", diz Marcelo Carvalho, economista-chefe do Morgan Stanley, que alterou suas estimativas para o dólar no final deste ano de R$ 1,90 para R$ 1,70. O Banco Central, acredita ele, será mais cauteloso na compra de reservas, agora que o país já chegou ao grau de investimento. E o fluxo de investimento externo direto e de portfólio tende a crescer, diz.
Carvalho acredita que o BC deve continuar a subir os juros básicos da economia na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, aumentando o diferencial entre as taxas internas e externas, que hoje já estão em 9,75 ponto percentual ao ano. O Barclays Capital concorda e reduziu sua previsão do câmbio em 12 meses para R$ 1,60. Carvalho acha que no curto a médio prazo a taxa pode ir a R$ 1,60 ou menos, mas depois tende a voltar a R$ 1,70 por causa da deterioração na conta corrente.
"O real já está muito caro; o Brasil já está muito caro", acredita o diretor do departamento de economia do Bradesco, Octavio de Barros. Ele também não descarta que a taxa "dê uma beliscada" no R$ 1,60, mas mantém sua previsão de R$ 1,75 no final do ano, também por causa do déficit em conta corrente que, na sua visão, pode atingir US$ 23 bilhões neste ano. Mas, esse déficit não preocupa pelo menos por enquanto, pois será financiado facilmente pelo investimento externo direto, afirma.
Octavio de Barros lembra que o dólar já parou de cair em relação ao euro e outras moedas e a tendência agora é de valorização. "Isso coloca pressão baixista nos preços das commodities e evita uma apreciação maior do real", diz.
Ricardo Amorim, analista-chefe para América Latina do WestLB, mantém sua previsão de dólar a R$ 1,60 no final deste ano e a R$ 1,55 no final de 2009. "Estamos mais otimistas do que o mercado há tempos", diz.
Para ele, o que determina acima de tudo a taxa de câmbio no Brasil é o preço dos commodities. "E ele deve continuar em alta por causa do crescimento forte da China e da Índia", avalia. Ele diz que o diferencial de juros no Brasil é atrativo para o investidor externo, mas acredita que o Banco Central tende a absorver "grande parte da sobra no mercado de câmbio".
Ele lembra ainda que em 18 países que obtiveram grau de investimento o investimento externo direto cresceu em três anos cerca de 1,9% do Produto Interno Bruto. Se o mesmo acontecer no Brasil, o estoque iria dos atuais 2% para 3,9%, ajudando mais a valorizar o real.
Segundo ele, em um regime de câmbio flutuante, nem o BC nem o Ministério da Fazenda conseguem mudar uma tendência de apreciação do câmbio. "Podem apenas reduzir a magnitude do movimento", diz. Para Amorim, o aumento no IOF de 1,5% no investimento externo em títulos públicos, que está sendo cogitado pelo governo, acaba tendo impacto forte de alta na parte mais longa da curva de juros interna, pois são os estrangeiros que compram os títulos públicos de prazo longo no país. "A medida acaba encarecendo o custo do crédito no Brasil", diz.
Não é à toa que foram os juros de longo prazo os que mais subiram ontem. Também por medo do IOF maior o câmbio teve alta ontem, de 0,48%, para R$ 1,6580, diz Alexandre Ferreira, vice-presidente da tesouraria do WestLB.