Título: Exportações de Coréia e Taiwan recuam 13%
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, Especial, p. A16

Não é só o Brasil que está perdendo participação para a China no mercado mundial. A mão-de-obra barata e a produtividade crescente da indústria chinesa estão deslocando exportações de diversos países da América Latina e do Leste Asiático, revela estudo do economista e pesquisador do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Maurício Mesquita Moreira. De 1990 a 2002, Coréia do Sul e Taiwan perderam o equivalente a 13,6% de suas exportações de manufaturados de 2002 para a China. O percentual é superior ao registrado pela América Latina. No mesmo período, a China deslocou o equivalente a 0,7% (US$ 1,4 bilhão) das exportações de 2002 dos países do continente latino-americano. Para Moreira, as perdas da América Latina são pequenas, mas aceleraram nos últimos anos. O economista do BID explica também que uma parcela do prejuízo dos países asiáticos é compensada. Essas nações estão exportando menos para os Estados Unidos ou para a União Européia, mas aumentaram significativamente seus embarques para a própria China. "Na Ásia, há uma divisão de trabalho que compensa parte das perdas . Na América Latina, não podemos nos dar a esse luxo", avalia Moreira. Dentro da América Latina, as maiores perdas foram registradas pelo Mercosul e pelo Pacto Andino. Em 12 anos, o Mercosul perdeu o equivalente a 4,1% do valor de suas exportações de 2002 para a China. Os países andinos sofreram um prejuízo semelhante: 4,2% de seus embarques. No Brasil, a perda também equivaleu a 4% dos embarques do país. Já os mexicanos sofreram muito pouco com a concorrência chinesa. Perderam apenas o equivalente a 0,3% de suas exportações de 2002 para os países asiáticos durante 12 anos. Segundo Moreira, o México conta com a proteção da Área de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e a vantagem de ser vizinho dos EUA. O Acordo de Têxteis e Vestuário (ATV) é outro fator que favorecia os mexicanos e, particularmente, os países da América Central, cujas perdas de exportação para a China foram de 1,1%. O ATV, que expirou no início desse ano, estabelecia cota por país para a exportação de produtos têxteis. Na avaliação de Mesquita, é muito complicado competir com a China, pois esse país possui diversas vantagens comparativas. Ao mesmo tempo em que existem regiões onde predominam empresas de alta tecnologia e mão-de-obra qualificada, há lugares onde o custo do trabalho é muito barato. Por conta do imenso mercado interno, a China conta como uma escala de produção que é quase impossível repetir. Mesquita acredita que a desvalorização artificial do yuan chinês em relação ao dólar - da qual tanto reclamam os americanos - também ajuda a elevar a competitividade chinesa, mas não é o fator principal. "O câmbio é uma gota d'água no oceano perto das vantagens salariais e de produtividade da China", afirma o economista do BID. (RL)