Título: Polícia sócia do crime
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Fonte: Correio Braziliense, 17/02/2011, Opinião, p. 22

¿Polícia é polícia, bandido é bandido.¿ A frase de Lúcio Flávio Villar Lírio, assaltante de bancos e líder de quadrilha, ganhou notoriedade há cerca de 20 anos. Cansado de corromper policiais para fugir da cadeia, ele decidiu falar. Contou os pormenores podres de como escapava dos que eram pagos para mantê-lo atrás das grades. Em 1995, foi assassinado na prisão.

Investigações levadas avante pela Polícia Federal provam que a promiscuidade do crime com o poder policial não se inibiu. Avançou. Chegou à cúpula da instituição, como prova a ação desencadeada no estado do Rio que, além de profissionais de elevadas patentes, derrubou o chefe da Polícia Civil. A sociedade suja, porém, não se restringe aos limites fluminenses. Estende os tentáculos ao entorno da capital da República.

A Operação Sexto Mandamento, comandada pela Polícia Federal, confirmou denúncias que vêm sendo feitas pelo Correio Braziliense desde 2009, quando uma série de assassinatos assustou a região. (O número de vítimas do bando deve chegar a 50.) Na primeira investida, foram presos 19 PMs goianos acusados de envolvimento em esquadrões da morte. Entre os capturados, encontra-se o subcomandante-geral da PM do estado, coronel Carlos Cézar Macário. Ex-secretários da Segurança Pública e da Fazenda devem responder por tráfico de influência e associação com a bandidagem.

É revoltante. A atividade de policiais que praticam a pena de morte é a mais torpe violação aos direitos humanos. A sociedade brasileira se rege pelo princípio do respeito às prerrogativas essenciais das pessoas. Não é por outra razão que a garantia está inscrita entre os fundamentos da República Federativa do Brasil conforme estatui a Constituição.

Aí está o quadro que conduz à necessidade imperativa de a PF e a Corregedoria da polícia, afastado qualquer tipo de corporativismo, identificarem os carrascos e promoverem inquéritos rigorosos. É inafastável a atuação do Ministério Público a fim de instruir a ação penal contra os acusados do modo mais eficiente para que prospere com urgência no âmbito do Poder Judiciário.

Ninguém duvida de que os primeiros resultados da Operação Sexto Mandamento sejam a ponta do iceberg. Há muito lixo a ser removido. Feita a faxina, outros passos devem ser dados. Não se resolverá o problema hoje presente em todo o país sem observar as condições dos que se dispõem a guardar a sociedade contra a ação dos criminosos.

Impõe-se o recrutamento por meio de concurso público. Não só. Treinamento periódico, avaliação constante, equipamento de ponta, salário digno e intensa fiscalização sobre cada um são requisitos indispensáveis para afastar tentações perigosas. Se as corregedorias e demais órgãos de controle cochilarem, Lúcio Flávio não morrerá.