Título: UE diz a Mercosul que prioridade é Doha
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2008, Brasil, p. A3

A União Européia espera ter condições de concluir um acordo de livre comércio com o Mercosul até novembro de 2009, mas, antes, considera prioritária a negociação de liberalização comercial na Organização Mundial do Comércio (OMC), informaram ontem dois dos principais integrantes da Comissão Européia, o órgão executivo da UE. O comissário de Comércio, Peter Mandelson, chegou a mandar um recado duro à Argentina, a quem acusou de prejudicar os esforços de liberalização comercial, com a adoção de impostos sobre exportação de alimentos.

"A Argentina deveria apoiar uma rodada bem-sucedida em vez de frustrar as possibilidades de êxito", comentou Mandelson, após reconhecer que os subsídios agrícolas de países como os europeus distorcem o comércio mundial. Só em um ambiente multilateral como a Rodada Doha de negociações será possível enfrentar esse problema, defendeu, ao afirmar que impostos de exportação, como os impostos pela Argentina para conter a inflação no mercado interno, reduzem o incentivo para aumento de produção e colaboram para aumentar a fome no mundo.

"Se os países deixam de exportar produtos agrícolas, isso reforçaria a tendência altista dos preços", acusou Mandelson. "O protecionismo não pode ser a resposta aos preços altos, só piora a situação."

A comissária de Relações Exteriores da União Européia, Benita Ferrero-Waldner, lembrou que a UE deve concluir, em breve, negociações de livre comércio com os países da América Central e tem esperança de concluir as negociações com o Mercosul antes do fim do mandato da atual comissão, que termina em novembro.

O governo brasileiro esperava marcar a retomada das negociações entre Mercosul e União Européia ainda neste semestre, quando será possível dizer se haverá acordo na Rodada Doha ou o tema será adiado indefinidamente. Os comissários deixaram claro que têm como absoluta prioridade a discussão na OMC.

"Tanto o Mercosul quanto a União Européia são grandes economias, com muitos interesses comerciais nessa negociação de Doha", justificou Mandelson. Só a definição dos avanços e limites da liberalização comercial proporcionados pelos resultados da discussão na OMC poderão fixar o alcance de um possível acordo entre Mercosul e UE, argumentou o comissário europeu. Enfático, Mandelson afirmou que há forte risco de aumento do protecionismo em conseqüência da desaceleração econômica com a crise nos mercados dos Estados Unidos, o que exige um esforço dos países para evitar uma "marcha a ré" na abertura do comércio mundial.

Mandelson e Benita falaram por videoconferência para jornalistas do continente, em preparação para a reunião de cúpula UE-América Latina e Caribe, no fim do mês, em Lima, Peru. A comissária disse esperar discutir temas como a luta contra pobreza, energia, aquecimento global e biocombustíveis no encontro, que terá reuniões paralelas sobre os acordos regionais negociados pelos europeus. Enquanto estão previstas reuniões de negociação com a Comunidade Andina e com a América Central, a reunião com o Mercosul se destinará apenas a relatar "onde estamos neste momento", disse Benita.