Título: Diretor de Itaipu admite discutir tarifas da empre
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2008, Brasil, p. A4

Jorge Samek: declarações não seriam conflitantes com a do ministro O diretor-geral brasileiro da usina binacional de Itaipu, Jorge Samek, mudou o tom na discussão sobre as pretensões do Paraguai em relação ao preço da energia fornecida pela hidrelétrica: já admite pôr em discussão o aumento das tarifas cobradas ao Brasil. Após depoimento à Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Samek disse não descartar o aumento, embora continue considerando que Itaipu recebe o preço "justo", pela energia fornecida ao Brasil, equivalente ao pago para outras hidrelétricas brasileiras.

"Se o dólar continuar indo do jeito que está, a energia de Itaipu fica muito barata para a indústria, para o consumidor, não é justo sentar na mesa e encontrar uma equação que possa vir para melhorar a situação?", perguntou Samek, ao responder ao deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que lhe perguntou se haveria ou não aumento na tarifa de Itaipu. "Sim ou não é complicado", disse Samek, argumentando que não poderia haver tabus na negociação.

Samek defendeu o tratado de formação da usina como "justo, digno e honesto", e afirmou que não há necessidade de alterá-lo, mas admitiu alterações no seu anexo C, que fixa as regras de cálculo da tarifa, de maneira a garantir a cobertura dos custos, pagamentos de royalties e remuneração dos sócios, Paraguai e Brasil. Quando houver discussão do tema entre as equipes do governo brasileiro e do recém-eleito presidente paraguaio, Fernando Lugo, os brasileiros levarão dados sobre os compromissos da usina e o destino dos pagamentos, disse.

Samek argumentou que suas declarações não conflitam com as do ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, que recusou qualquer alteração na tarifa de Itaipu. Lobão e ele estavam contestando as demandas paraguaias de multiplicação por oito da tarifa, baseadas em afirmações equivocadas de que o Brasil paga apenas US$ 2,80 pelo megawatt fornecido pela usina. Esse valor é o adicional acrescentado à tarifa, hoje de US$ 38,66 paga pelo Brasil, explicou. A confusão é disseminada no Paraguai, devido ao fato de que a maior parte da tarifa se destina ao pagamento da dívida da usina, assumida pela Eletrobrás e Tesouro brasileiro.

"O presidente eleito foi mal assessorado", comentou o diretor do departamento de América do Sul I do Ministério de Relações Exteriores, João Luiz Pereira Pinto, ao comentar as demandas de Fernando Lugo para basear as tarifas de Itaipu no aumento do preço da energia provocado pelo alto preço do petróleo no mercado internacional. "Alguém deve ter soprado essa idéia, ele comprou no calor da campanha e agora vai ficar uma saia justa", resumiu, ao comentar a impossibilidade de atendimento das expectativas sobre Itaipu que ajudaram a levar Lugo ao poder.

Severo, Pereira Pinto disse que, após a eleição, Lugo moderou o tom usado em seus comentários sobre Itaipu e garantiu que boa parte das queixas contra a hidrelétrica dizem respeito não aos contratos da usina, mas ao uso dos recursos de Itaipu pelo governo paraguaio. Enquanto os royalties pagos pela usina ao lado brasileiro são destinados, na maior parte, aos municípios que tiveram terras alagadas pela construção da hidrelétrica, no Paraguai o governo central recolhe a maior parte e distribui por outros critérios.

"É no mínimo injusto culpar Itaipu pelos problemas internos do país", disse o diplomata, que também acusou o jornal paraguaio "ABC Color" pela campanha sistemática contra a administração de Itaipu e de atacar o Brasil e o Itamaraty por interesses empresariais. "Os municípios brasileiros beneficiados pelos royalties de Itaipu têm uma economia extraordinária, do outro lado, os municípios se queixam de que não têm nada, nem asfalto", endossou Samek, culpando a administração paraguaia dos recursos da usina pelo mal-estar causado entre possíveis beneficiários da hidrelétrica.

Pereira Pinto defendeu, porém, o apoio a investimentos no Paraguai e a medidas para incentivar a economia local. "O país tem água, terra e energia, tudo o que vai faltar no mundo", comentou Eduardo Ribeiro, da Federação de Indústrias do Paraná.