Título: Cai pressão pela revisão de dívidas
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, Agronegócios, p. B10

Beneficiados pela forte valorização do café no mercado internacional, produtores e parlamentares ligados ao setor já enfraquecem a pressão pela prorrogação das dívidas de R$ 535 milhões. A bancada ruralista trabalha, agora, com o foco no "perdão" das multas e juros por atraso de pagamento, já que a alta dos preços do café tem dado fôlego a produtores e cooperativas. Para determinar uma solução, os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e Antonio Palocci (Fazenda) devem conversar hoje com o presidente Lula. Na mesa, estão os pedidos de renegociação das dívidas rurais, inclusive as do café, e a discussão sobre um pacote de recursos para a comercialização da atual safra.

Fontes do setor cafeeiro estimam que os ganhos com os atuais estoques do produto em mãos de produtores e cooperativas já teriam chegado a R$ 160 milhões desde dezembro de 2004, quando deveriam começar a vencer as primeiras parcelas das dívidas de custeio e colheita da safra. De 20 de dezembro até a última terça, o segundo contrato da bolsa de Nova York subiu quase 13%, segundo o Valor Data. O mercado estima que há 6,3 milhões de sacas nos estoques privados. A ofensiva dos cafeicultores parece não encontrar apoio fora do círculo produtivo. O Banco do Brasil antecipa que não perdoará esses encargos adicionais. "Eles terão que arcar com os encargos porque tenho que recolher esse dinheiro ao Funcafé com juros de mercado", diz o vice-presidente de Agronegócios do BB, Ricardo Conceição. Os produtores pagam 9,5% ao ano nos empréstimos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé). Fora do vencimento, os agentes financeiros do fundo têm que pagar, por contrato, a taxa Selic como remuneração. "Vamos aplicar a Selic mais o spread do banco", diz Conceição. Ele avisa que o BB aguardará o pagamento até 28 de fevereiro, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá ter tomado uma decisão final sobre o caso. "Depois disso, vamos executar as dívidas", afirma. Segundo ele, o banco ainda não executou os produtores porque havia "no ar" uma chance de prorrogação. "Agora, parece que não haverá mesmo". O BB tem R$ 50 milhões de dívidas vencidas em carteira. A discussão sobre o endividamento do setor vem de longe. E o governo tem respondido ao lobby. Em 2001, quando houve a última grande renegociação das dívidas rurais, o setor do café obteve a rolagem de R$ 1,05 bilhão em débitos com o Funcafé. Foi um desafogo em meio a um cenário de crise. Do total, R$ 615 milhões foram prorrogados por 12 anos - com um de carência. Os juros de 8,75% ao ano tiveram um rebate de três pontos percentuais e, nos primeiros três anos do novo contrato, os cafeicultores pagaram apenas os juros.