Título: Líder do PSDB no Senado defende intervenção nacional pró-Alckmin
Autor: Felício , César;Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2008, Política, p. A8

Os defensores da candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) à Prefeitura de São Paulo procuram mobilizar a direção nacional da sigla para contrabalançar a articulação do grupo aliado ao governador José Serra, que apóia a reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM). Um ato com a presença das bancadas federais deverá ocorrer em São Paulo no dia 15 de maio e na cúpula tucana já se fala em intervenção nacional em São Paulo.

"Sou a favor de uma intervenção nacional que restabeleça o diálogo e a concórdia, sem atropelar nenhuma das instâncias locais e cometer violência alguma", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), um antagonista de Serra dentro do PSDB: o senador apresentou-se como pré-candidato à Presidência em 2010, depois de se desentender com Serra na votação da emenda constitucional que prorrogaria a cobrança da CPMF. O diretório municipal paulistano aprovou a candidatura de Alckmin anteontem, em uma decisão contestada pelo grupo serrista.

Segundo Virgílio, " a ação da direção nacional é necessária porque um processo de divisão não leva à vitória, como dizem os mais elementares manuais de política eleitoral existentes".

O ato em São Paulo está sendo articulado desde que foi anunciada a liderança entre o PMDB e o DEM para apoiar Kassab, mas começa a se tornar menor do que o inicialmente previsto. Até a semana passada, seus articuladores falavam em reunir em São Paulo os governadores da sigla, de modo a constranger Serra a declarar apoio público a Alckmin. Agora planejam um evento apenas com deputados federais e senadores.

Ontem Serra, Alckmin e Kassab participaram da inauguração do Instituto do Câncer Otávio Frias de Oliveira, uma unidade especializada com 580 leitos, fruto de um investimento estadual que consumiu R$ 170 milhões. O governador foi elegante com seu antecessor, ao afirmar que a iniciativa de retomar as obras do empreendimento habviam sido de Alckmin. Mas em outra solenidade, pela manhã, excluiu a reunião do Diretório tucanos dos fatos que o alegraram, uma relação composta pela conquista do campeonato paulista de futebol pelo Palmeiras e pela inauguração de obras. "O que falei de boas notícias são coisas individuais, conclusivas e de resultados ", disse.

Alckmin admitiu que sua candidatura estará sob risco político até o final de junho, diante da mobilização do grupo serrista para derrotar a candidatura própria do partido na convenção municipal em junho. " A palavra final será da convenção do partido, evidentemente. Mas ontem foi um passo importante ", disse Alckmin, referindo-se à tumultuada reunião do Diretório Municipal que o proclamou candidato, sem que o assunto fosse submetido à votação.

Alckmin disse que tem ao seu lado a militância e acredita que "a base do partido" dará sustentação à sua candidatura, mesmo à revelia dos vereadores. Questionado como faria pra arrecadar recursos para a campanha, já que terão duas candidaturas da situação, Alckmin disse que fará uma "campanha bastante despojada, bastante franciscana. Os recursos mínimos existirão". O tucano disse também que ficará os quatro anos no governo, caso eleito, e que não abandonará para disputar o Estado ou a Presidência.

O grupo favorável à manutenção da aliança com o DEM - composto pelos secretários tucanos no governo de Kassab, onze dos doze vereadores da bancada dos vereadores e diretórios zonais - ameaça deixar a candidatura Alckmin abandonada. Na análise do secretário municipal Walter Feldman, que comanda dentro do PSDB paulistano a operação contra a candidatura Alckmin, o ex-governador está em situação desconfortável e sua candidatura, contestada por vereadores, por tucanos com cargos e por parte dos delegados zonais "corre sério risco".

Feldman disse que não reconhece a decisão da Executiva e contesta a autoridade do diretório para lançar o tucano. "Para lançar a candidatura é preciso ter o apoio de todos e isso não aconteceu. Não somos nós que estamos dividindo o partido, como acusam", reclamou.