Título: Corregedoria analisará denúncia contra Paulinho
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Fonte: Valor Econômico, 07/05/2008, Política, p. A10

Paulinho: "As centrais sindicais deixam muita gente com raiva, principalmente essa elite que não gosta de trabalhador. Vou pedir a quebra dos meus sigilos" A Corregedoria da Câmara dos Deputados vai analisar, por decisão do presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), as denúncias de irregularidades feitas contra o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, presidente da Força Sindical. O parlamentar é investigado pela Polícia Federal por suposto envolvimento com fraudes no repasse de recursos BNDES.

Ao enviar ofício à Corregedoria, Chinaglia (PT-SP) não citou o nome de Paulinho. Ele fez apenas um relato das reportagens recentes sobre as irregularidades no BNDES e pediu que a Corregedoria analise a possível participação de deputados no esquema.

Se a Corregedoria encontrar indícios de participação de Paulinho, pode sugerir várias sanções, desde uma mera advertência até a cassação do mandato. O processo, então, seria remetido ao Conselho de Ética. Na Câmara, porém, a avaliação é a de que as chances de uma representação ter conseqüências mais graves contra Paulinho são remotas. O corregedor-geral é o deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE) e, segundo apurou o Valor, não se espera dele uma ação mais dura contra o colega.

Pouco antes de Chinaglia anunciar o envio do caso à Corregedoria, o senador Jefferson Peres (PDT-AM) defendeu o afastamento de Paulinho do partido. "O melhor é ele se licenciar do partido. Acho que deixaria todos mais à vontade, já que as acusações são graves", disse o parlamentar.

No fim da tarde, Paulinho foi à tribuna do plenário da Câmara se defender. O deputado procurou desqualificar o relatório da PF. Disse que houve duas citações a "Paulinho" e uma a "PA". "No relatório, a polícia diz que, abre aspas, Paulinho e PA são ´possivelmente´ o deputado Paulo Pereira da Silva", disse o parlamentar.

A PF deflagrou, no dia 24 de abril, a Operação Santa Tereza, na qual investiga dois financiamentos sob suspeita autorizados e liberados pelo banco nos valores de R$ 130 milhões e R$ 220 milhões. Nos grampos da polícia, João Pedro Moura, ex-assessor de Paulinho, aparece como suposto chefe do grupo. A imprensa publicou fotos do relatório que mostram o deputado ao lado do amigo nas dependências da Câmara. "De uma hora para outra, virei criminoso. Não tenho nada a ver com isso", disse Paulinho aos pares. O deputado fez um relato das diversas propostas aprovadas pela Câmara de interesse dos trabalhadores. E lembrou que tais bandeiras desagradam a muita gente.

"As centrais sindicais deixam muita gente com raiva, principalmente essa elite que não gosta de trabalhador. Agora, especialmente, tem gente que não gosta da nossa bandeira de redução da jornada para 40 horas semanais. Muita gente disse que ia me pegar na esquina", afirmou. O deputado anunciou que pediria, ainda ontem, ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que quebre seus sigilos bancário, fiscal e telefônico.

"Não tenho nada a esconder. Minha vida é limpa, clara e transparente. Estou à disposição da Corregedoria e do Conselho de Ética. Vou ao procurador-geral pedir a quebra dos meus sigilos", afirmou. "Vou pedir que ele me investigue. Se tiver culpa, que me puna."

No discurso, o deputado elogiou e reiterou o apoio da Força Sindical ao advogado Ricardo Tosto, indicado pela entidade para integrar o conselho do BNDES. Ele é um dos acusados de participação no esquema. "É um dos maiores advogados do Brasil e confiamos nele", afirmou. Paulinho também fez questão de divulgar que tem o apoio de todas as centrais sindicais.

Na noite de ontem, o deputado tinha reunião com a Executiva Nacional do PDT, que exigiu que ele se explicasse sobre as acusações. O líder do partido na Câmara e presidente em exercício da legenda, deputado Vieira da Cunha (RS), elogiou o discurso de Paulinho. "Cumprimento o deputado Paulinho pela postura que assume ao quebrar seus sigilos. É postura transparente de quem não deve e não teme. Falo em nome de toda a bancada do PDT", disse. (TVJ)