Título: Novos desafios para o governo
Autor: Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 17/02/2011, Cidades, p. 29

Depois de definidos os presidentes das comissões da Câmara Legislativa, a relação entre o Palácio do Buriti e os distritais será novamente testada quando os projetos de interesse do governo forem colocados em votação no plenário, o que deve ocorrer a partir da semana que vem. O fim do impasse para a definição das cobiçadas vagas não encerra o trabalho de articulação do Executivo com a base governista. As cobranças para o cumprimento dos acordos firmados com os deputados antes e depois do início da gestão de Agnelo Queiroz (PT) ganham fôlego e, em alguns casos, até tom de ameaça. Há aliados insatisfeitos com o tratamento recebido do governador que estudam a possibilidade de se juntarem à oposição. A manutenção da ampla base, composta por 19 deputados, exigirá do petista muito jogo de cintura terá para conseguir conciliar os interesses de cada apoiador.

O movimento de dissolução de blocos partidários na Câmara é considerado normal após a formação da Mesa Diretora e das noves comissões permanentes. Hoje, existem oficialmente cinco grupos na Casa, mas há indícios de que a composição inicial será desfeita. O desgaste provocado pelas negociações de partilha dos espaços políticos dinamitou algumas alianças. O bloco Avanço Democrático (DEM/PMN/PTdoB/PRTB) é tido como híbrido por acomodar deputados que se dizem de oposição e outros da base. O democrata Raad Massouh deve deixar o grupo por estar mais afinado com governistas do que com os próprios colegas.

Olair Francisco (PTdoB) já declarou o desejo de integrar a base que apoia Agnelo, mas, para tanto, não esconde a vontade de ver cumpridos os compromissos firmados depois da eleição do petista. O parlamentar fala abertamente sobre o fato de ainda não ter recebido cargos no Executivo e destaca que tem indicações importantes a fazer. O mesmo espera Joe Valle (PSB), que até ameaçou abandonar o grupo se a relação com o governo não avançar.

Um apoiador do governo disse ontem ao Correio que há ¿um clima de instabilidade no ar¿ em relação à consolidação da base. ¿O grande teste do governo não foram as comissões, mas será quando houver alguma votação importante. Eles têm que cumprir os acordos para evitar o afastamento da base¿, afirma.

O Grupo dos 14 ¿ criado no início do ano para medir forças com o Executivo ¿ pode ressurgir a qualquer momento com força suficiente para empacar propostas de interesse do governo, já que tinha em sua formação deputados governistas. ¿Depois das comissões, a situação com eles está pacificada, mas não se sabe até quando¿, confidenciou um parlamentar da base. A manobra do governo de manter Agaciel Maia (PTC) na presidência da Comissão de Economia teve o intuito de abrandar os ânimos. ¿A maioria dos deputados quer ser governista. Ganhar mais um integrante não faz tanta diferença quanto perder um aliado para a oposição¿, analisa Celina Leão (PMN).

Blindagem A blindagem do governador é estratégia adotada pela cúpula do PT desde o início da gestão Agnelo. O objetivo é desconstruir o modelo de relação que era mantido pelos ex-governadores José Roberto Arruda (sem partido) e Joaquim Roriz (PSC) com o Legislativo. Enquanto Arruda conversava diretamente com cada deputado, Roriz delegou a missão a assessores. O secretário de governo, Paulo Tadeu (PT), o coordenador de assuntos parlamentares do GDF, Wilmar Lacerda, além do líder de governo, Wasny de Roure, e do líder do bloco PT-PRB, Chico Vigilante, foram incumbidos de fazer a ponte com o parlamento.

O problema, segundo alguns distritais governistas, é o fato de, em alguns momentos, os próprios interlocutores não conseguirem chegar a um consenso, o que atrapalha as negociações e demonstra falta de liderança política. ¿As coisas vão se acomodar aos poucos. O tempo do Legislativo é diferente do Executivo. Está se construindo uma relação de confiança e isso demora¿, afirma o presidente da Casa, deputado Patrício (PT).

Uma das reclamações mais recorrentes da base é que, em 47 dias de governo, Agnelo Queiroz sentou-se uma única vez com os distritais mais alinhados à sua gestão. O encontro ocorreu no último dia 28, na residência oficial de Águas Claras, com o objetivo de aproximar os poderes considerando o início do ano legislativo. Depois disso, na semana passada, os governistas voltaram a se encontrar, em um café da manhã, para tentar acomodar os interesses de todos e definir quem ficaria com o comando das comissões temáticas.

BRB: sabatina » Hoje, a partir das 10h, os integrantes da Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (Ceof) da Câmara Legislativa vão sabatinar Edmilson Gama da Silva, indicado para a presidência do Banco de Brasília (BRB). Ex-superintendente nacional de Atendimento e Distribuição da Caixa Econômica Federal (CEF), ele foi indicado para o cargo pelo governador Agnelo Queiroz. Aos 48 anos, ele é, há 28 anos, empregado da Caixa, onde exerceu várias funções de comando, principalmente nas subsidiárias. Foi diretor da Caixa Vida e Previdêncida, da Caixa Capitalização e da Caixa Seguros. Apontado como um técnico, Edmilson Gama tem como tarefa afastar um fantasma que ronda o BRB desde 2007. O banco sofreu turbulências durante a Operação Aquarela, quando o ex-presidente do banco Tarcísio Franklim de Moura foi preso e acusado de montar um esquema de desvio de dinheiro, que era lavado por meio de cartões corporativos do Banco de Brasília.