Título: Após alta, carteiras de ações voltam a atrair aplicadores
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2008, EU & Investimentos, p. D2

Após seis semanas consecutivas com resgates líquidos, os fundos de ações voltaram a apresentar captação positiva de R$ 357 milhões na última semana, segundo dados do site Fortuna. No ano, porém, as carteiras ainda registram resgates líquidos de R$ 478 milhões. A consultoria atribui a reversão à elevação da dívida soberana brasileira ao grau de investimento pela Standard & Poor's, o que teria motivado os aplicadores daqui a dar mais um voto de confiança à renda variável. Além do "investment grade", também a nova disparada da bolsa de valores, que atingiu o quarto recorde seguido em número de pontos ontem, também teria estimulado os aplicadores mais oportunistas. No entanto, é praticamente impossível dissociar uma motivação da outra.

Apenas na semana passada, o Índice Bovespa (Ibovespa) voltou a apresentar variação positiva no acumulado do ano. Portanto, essa migração foi uma reação natural dos investidores, explica Ronaldo Patah, responsável pela área de renda variável na Unibanco Asset Management (UAM). É um movimento mais percebido entre os investidores de varejo, comenta. Na UAM, as perspectivas para a bolsa já eram positivas antes do grau de investimento. "A projeção de que o Ibovespa atingirá 80 mil pontos até dezembro foi mantida", diz Patah. Isso implica uma alta potencial de 14% em comparação ao fechamento de ontem.

Grande parte dos fluxos de recursos que tem ingressado nos fundos de ações tem como destino as carteiras de apenas uma ação, de Petrobras ou Vale. Só esses portfólios representam 18% do total aplicado no segmento, segundo o Fortuna.

Mas as carteiras de ações com maior potencial, neste momento, são aquelas compostas por papéis de segunda linha e outras de setores específicos como infraestrutura e construção civil, diz Patah, da UAM. "São essas as carteiras que apresentavam maiores saques, mas, se pensar num horizonte de, pelo menos, 12 meses, o potencial de ganho desse setores tende a ser ainda maior do que o Ibovespa."

Os fundos de "small caps" (ações menos líquidas do mercado, chamas de segunda linha) têm potencial para subir pelo menos o dobro do Ibovespa até o fim do ano, estima Patah. No entanto, como a experiência dos últimos meses mostrou, essas ações são muito mais arriscadas e podem sofrer mais em períodos de estresse do que aquelas mais negociadas, e que compõem o Ibovespa, como Petrobras e Vale.

Também demonstraram algum destaque nas últimas semanas as carteiras que têm como referência os índices de inflação, diz Marcelo D'Agosto, diretor da consultoria Fortuna. Os fundos refletiram o repique dos preços, explica ele. Embora não exista categoria que mostre essas carteiras de forma agregada, a maior parte dos fundos com esse perfil teve rentabilidade acima do IGP-M de abril, de 0,69%. No ano, até abril, enquanto o IGP-M já avançou 3,09%, os fundos DI renderam 3,01%, segundo o Fortuna. Os fundos de inflação podem atrair à medida que o próprio Banco Central (BC) sinaliza uma preocupação com o aumento dos preços no curto prazo. Por isso, o mercado futuro de juros e o secundário de títulos públicos continua a acenar com boa dose de volatilidade nos prêmios e taxas prefixadas.

O aumento da inflação também pode ser um estímulo à mais para as aplicações em renda variável, porque há uma tendência de valorização dos denominados ativos reais - ações e imóveis, por exemplo - à medida que os preços sobem. D'Agosto lembra, porém, que ainda é cedo para afirmar que a tendência de resgates nos fundos de ações apresentada ao longo do ano foi revertida. Essa avaliação será mais precisa apenas ao longo das próximas semanas.

No acumulado do ano, o setor de fundos de investimento como um todo acumula captação de R$ 34,789 bilhões, até o dia 2. A maior parte dos recursos vem de fundos classificados como poder público, em que apenas estados e municípios podem aplicar, com R$ 24,174 bilhões. Em seguida, aparecem as carteiras classificadas como "outros", categoria em que estão inseridos os fundos de recebíveis, com R$ 16,726 bilhões, em que apenas os investidores qualificados - com pelo menos R$ 300 mil em aplicações - podem investir. Já para o investidor comum, os DIs aparecem no topo, com R$ 12,783 bilhões. Em contrapartida, os multimercados apresentam resgates de R$ 18,809 bilhões, até o dia 2. Os fundos de renda fixa prefixados registram ingresso de módicos R$ 208 milhões no ano.