Título: Lula quer medidas para conter a inflação
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2008, Brasil, p. A3
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer nenhuma tolerância com a inflação. Lula, segundo informou ao Valor um assessor direto, está "preocupadíssimo" com o recente aumento da inflação, principalmente, com a alta dos preços dos alimentos. Por causa disso, em conversas nos últimos dias com ministros e assessores, ordenou que sejam adotadas medidas para combater a carestia.
Em entrevista ao Valor, publicada na edição de ontem, o ministro Guido Mantega disse que a inflação está em alta em vários países do mundo. "A Suíça está com 2,5% de inflação, a União Européia está com 3,5%, deveria estar com 2% e ninguém lá está arrancando os cabelos com isso. A Rússia está com inflação de 13,3%, deveria estar com 8% e também não estão arrancando os cabelos lá", comentou.
Mantega afirmou que o Brasil está passando por um choque de oferta "relevante" e, por isso, sugeriu que a política antiinflacionária leve em conta, na atual conjuntura, o intervalo superior da banda de tolerância do regime de metas para inflação. Como a meta atual é 4,5%, o Banco Central, o responsável pela política monetária, trabalharia com a possibilidade de que ela pudesse ir até 6,5%.
"Lula não concorda de forma alguma com isso", informou ontem um assessor do presidente. "Pelo contrário. Ele não quer que o governo afrouxe nada nesse sentido (no combate à inflação). Além do mais, quer medidas para ajudar a manter a inflação sob controle", revelou o mesmo assessor.
Em reuniões com Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Lula, segundo um auxiliar direto, deixou claro que não quer trégua na luta antiinflacionária. Ele explicou, nas palavras de um assessor, que a inflação "bate nos mais pobres" e pode provocar "corrosão" nos salários mais baixos e nos benefícios sociais. "O presidente considera a inflação um de seus principais ativos políticos", atesta um colaborador.
Em reunião ocorrida em meados de março, no Palácio do Planalto, Meirelles fez uma detalhada explanação ao presidente sobre os riscos inflacionários que surgiram nos últimos meses. Lula ficou impressionado com a apresentação. No dia seguinte à conversa, fez discurso contundente em que chamou a inflação de "desgraçada". A conversa com Lula abriu o caminho para o BC elevar a taxa de juros com o apoio do Palácio do Planalto, depois de quase três anos de alívio monetário.
Ontem, em entrevista no Palácio do Planalto, o presidente disse que nada muda na política econômica e, mais uma vez, mencionou a alta dos alimentos. "Tem uma inflação de alimentos que nós sabemos, está detectada", disse, acrescentando que a safra agrícola recorde deverá baixar os preços de alguns produtos. "E eu acho que na medida em que cresce a produção, o preço cai. Precisamos, então, garantir que a comida chegue mais barata na mesa do povo brasileiro."
O ministro Guido Mantega divulgou nota ontem, confirmando o teor das declarações que fez ao Valor um dia antes, mas contestando a manchete do jornal sobre o assunto - "Mantega sugere mais tolerância com a inflação". "A manchete está equivocada. Não corresponde ao conteúdo da entrevista que dei ontem e que está corretamente publicada no texto do jornal", diz a nota. "Em momento algum eu sugeri tolerância com a inflação. Esta conclusão não está nem na entrevista e nem é o que penso sobre o assunto", sustentou.
"A alta de inflação no Brasil hoje decorre principalmente de choques de oferta. O sistema de metas de inflação, com as margens de tolerância, foi feito exatamente para acomodar choques desta natureza. Gostaria de reiterar que todo o governo federal tem como objetivo manter a inflação sob controle. Esta é uma conquista do povo brasileiro", observa Mantega na nota.
"Não apenas a Fazenda e o Banco Central combatem a inflação. Esta é uma preocupação constante do presidente Lula e de todo o governo", afirma o ministro. "Eu não sou tolerante com a inflação. Ninguém no governo é tolerante com a inflação, a começar do presidente Lula."