Título: Dados sugerem ligação de Chávez com Farc
Autor: José de Córdoba e Jay Solomon
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2008, Internancional, p. A17

Uma série de arquivos confidenciais de computador vinculando intimamente o presidente Hugo Chávez a rebeldes comunistas tentando derrubar o governo da Colômbia parece ser autêntico.

O achado - encontrado no laptop de um líder de guerrilha morto numa incursão militar em março - possivelmente elevará a pressão para que os EUA imponham sanções a um dos seus mais importantes fornecedores de petróleo.

Até agora, os poucos arquivos que haviam vazado confirmaram a conhecida simpatia de Chávez pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Mas uma análise do "Wall Street Journal", que examinou mais de 100 novos arquivos do computador, indica que a Venezuela mantém vínculos mais profundos com as Farc do que se sabia anteriormente.

Esses documentos indicam que a Venezuela fez ofertas concretas para ajudar a armar os rebeldes, possivelmente com lançadores de granadas e mísseis terra-ar. Os arquivos sugerem que a Venezuela ofereceu às Farc o uso de um dos seus portos para receber carregamentos de armas, que teria proposto a elaboração de um plano de segurança conjunto com as Farc e tentou obter treinamento básico em técnicas de guerrilha.

"Reina um entendimento completo na comunidade de inteligência de que esses documentos são o que eles pretendem ser", disse uma graduada autoridade dos EUA. O gabinete do Diretor de Inteligência Nacional tem compartilhado as suas avaliações com a Casa Branca, disse esta autoridade.

A postura de Washington deve prejudicar as relações, já profundamente abaladas, da Venezuela com os EUA, seu maior parceiro comercial. Poderá ainda elevar a pressão para que os EUA declarem a Venezuela um Estado que patrocina o terrorismo, junto com Cuba, Irã, Coréia do Norte, Sudão e Síria, e para que imponha sanções.

Chávez tem reiterado que os arquivos foram falsificados pela Colômbia. "Não reconhecemos a validade de nenhum destes documentos", disse Bernardo Alvarez, embaixador da Venezuela nos EUA. "Eles são falsos, e representam uma tentativa de desacreditar o governo venezuelano".

A Interpol ainda não emitiu a sua opinião sobre a legitimidade dos arquivos. Para evitar as alegações de falsificação, a Colômbia solicitou que a Interpol fizesse uma análise forense independente. Na próxima semana, o secretário da Interpol, general Ronald Noble, deverá fazer uma viagem à Colômbia para apresentar as conclusões.

Os arquivos de computador mostram a profunda antipatia de Chávez pelos EUA, que ele costuma descrever como opressor da América Latina. Segundo um arquivo, o ministro do Interior da Venezuela, Ramon Rodriguez Chacin, pediu em novembro que as Farc treinassem militares venezuelanos em táticas de guerrilha, incluindo "táticas operacionais, explosivos... acampamentos na selva, emboscadas, logística, mobilidade", para prepará-los para combater uma guerra de guerrilha no caso de os EUA invadirem a Venezuela.

Os documentos estão entre mais de 10 mil arquivos que os serviços de inteligência colombianos alegam ter vindo de três laptops pertencentes a Raul Reyes, que era o segundo na hierarquia das Farc. Reyes foi morto em março, quando militares colombianas realizaram uma controversa incursão no Equdor, onde ele estava acampado.

Houve sinalizações recentes que de que os computadores contêm informação acurada. A polícia da Costa Rica fez uma blitz bem-sucedida numa casa pertencente a supostos simpatizantes das Farc e apreendeu US$ 480 mil, guiada por dados dos documentos que indicavam que o dinheiro estaria lá.

A autoridade disse que a informação mais preocupante nos arquivos sugere a disposição das Farc de comprar praticamente qualquer tipo de arma de qualquer fonte. A autoridade disse que o governo Chávez ficou cada vez mais disponível a ajudar as Farc a chegar aos vendedores internacionais. E citou o desejo especial das Farc de comprar mísseis terra-ar, apesar de dizer não haver sinais de que a guerrilha teria conseguido.

A Venezuela preparou uma forte ofensiva diplomática para barrar qualquer movimentação dos EUA no sentido de declarar o país como patrocinador do terrorismo. Isso deflagraria sanções econômicas, que prejudicariam o comércio bilateral de US$ 50 bilhões anuais e causaria ainda mais turbulência no mercado de petróleo, já que a Venezuela é um grande produtor.

Num discurso no mês passado, em Nova York, o embaixador venezuelano advertiu que os EUA pagariam um alto preço econômico se tentassem associar a Venezuela ao terrorismo. "Haverá conseqüências econômicas muito graves", disse Alvarez, acrescentando que cerca de 230 mil empregos na indústria americana dependem das exportações para a Venezuela, que por sua vez envia aos EUA 1,58 milhão de barris de petróleo por dia.

Num email do começo de 2007, o comandante das Farc Ivan Marquez descreve reuniões com o chefe da inteligência militar venezuelana, general Hugo Carvajal, para tratar de "finanças, armas e política de fronteiras". Marquez relata que os venezuelanos iriam fornecer 20 "bazucas muito poderosas", o que autoridades colombianas crêem ser lançadores de granadas.

O escritório de Carvajal disse que o general era a única pessoa autorizada a comentar e que ele estava viajando.