Título: Cenário mundial cria condições para petróleo atingir os US$ 150
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2008, Empresas, p. B6

O cenário para que o barril de petróleo atinja US$ 150 está pronto. Basta manter o atual aperto entre oferta e demanda, combinar com algum conflito em países produtores da commodity e contabilizar uma leve recuperação da economia americana para que o produto alcance o patamar histórico. E o reflexo de tamanha cotação também já está na ponta da língua: inflação e busca acelerada por fontes alternativas de energia.

Ontem, o petróleo continuou sua trajetória de valorização e o contrato para junho deste ano foi negociado a US$ 123,69 na Bolsa Mercantil de Nova York, o que significou uma leve alta de 16 centavos de dólar. Na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres, o insumo também para o mês de junho foi comercializado a US$ 122,84, um incremento de 52 centavos de dólar.

Analistas ouvidos pelo Valor afirmam que a ausência de novos campos de produção e a sinalização de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tem pouca capacidade extra empurram o preço para cima. E com a commodity em alta e o dólar em queda, investir no produto virou quase um porto seguro para muitos fundos de investimento que perderam alguns bilhões de dólares com a crise do mercado imobiliário nos EUA.

"É um movimento que se auto-alimenta. Um barril mais caro chama mais recurso financeiro, que por sua vez mantém a cotação em alta", avalia Lucas Brendler, analista de Investimento da Geração Futuro Corretora. Mas toda essa movimentação somente acontece hoje porque o petróleo tem suas razões, na economia real, para continuar subindo dia após dia.

Com o preço nas alturas, regiões que antes não eram economicamente exploráveis passaram para o radar de boa parte das petrolíferas mundo afora. E o resultado é a disparada do aluguel de sondas de petróleo e a falta de equipamentos a pronta entrega. Se na década de 90 a diária de aluguel de uma sonda custava ao redor de US$ 20 mil, hoje alugar o maquinário atinge facilmente os US$ 600 mil. "Outros equipamentos têm fila de até três anos para serem entregues", conta o analista da Geração Futuro.

A dificuldade em obter equipamentos acaba atrasando a entrada de novos campos de petróleo. E o resultado é que os atuais produtores não podem parar. "Um simples problema na Nigéria causaria o caos no setor", afirma o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). A Nigéria, grande centro de conflitos sindicais no setor de petróleo, é membro da Opep e responde por uma produção de 2,5 milhões de barris por dia da commodity.

"É uma característica do petróleo. Cerca de 90% das suas reservas estão localizadas em países instáveis politicamente com conflitos geopolíticos", acrescenta Pires. O banco Standard de Investimentos ainda lembra que a alta do petróleo se mantém nesta semana porque o dólar continua se desvalorizando e as incertezas geopolíticas estão em pauta.

No Brasil, os reflexos de um petróleo acima dos US$ 100 já fez sua primeira vítima. O governo federal, depois de quase três anos sem reajuste, resolveu aumentar o preço do litro do diesel em 15% e da gasolina em 10% na refinaria. O novo valor ainda não chegou a bomba de combustível, porque autoridades do governo decidiram reduzir alguns impostos para compensar o acréscimo.

Mas se a indústria do transporte está momentaneamente livre de aumentos, o mesmo não se pode falar de outros setores, como a petroquímica. Em abril, por exemplo, a nafta petroquímica, principal matéria-prima do setor, alcançou o seu maior preço no Brasil: R$ 1,48 mil a tonelada. Para este mês, a expectativa é que ultrapasse os R$ 1,5 mil. Com isso, companhias desse setor estão dispostas a rever a fórmula de cálculo que a Petrobras aplica para a petroquímica no país.

Segundo fontes do setor, o preço da nafta subiu 28% em reais no ano passado. E no primeiro quadrimestre de 2008, o aumento foi de 3%. E esse incremento só não foi maior porque o dólar manteve sua trajetória de queda. Mas agora é diferente, porque a moeda americana está se estabilizando ao redor de R$ 1,70.