Título: Megaconsórcio para enfrentar a Odebrecht
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2008, Empresas, p. B8

O leilão da segunda hidrelétrica do rio Madeira, Jirau, terá duas diferenças em relação à licitação da primeira usina, Santo Antônio. Além de muito provavelmente contar com apenas dois consórcios na disputa, um deles terá na sua composição duas estatais controladas pela holding Eletrobrás. Em Santo Antônio, três consórcios disputaram o empreendimento e cada um deles tinha uma controlada da Eletrobrás na formação.

O Valor apurou que na tarde de ontem a multinacional franco-belga Suez, a construtora Camargo Corrêa e as estatais Eletrosul e Chesf firmaram o acordo que os coloca em conjunto na disputa por Jirau. O novo consórcio, chamado de Energia Sustentável, terá na cabeça Suez como maior acionista (50,1%). As estatais terão cada uma 20%, enquanto a Camargo Corrêa ficará com 9,9%.

Na prática, a união desses grupos transformou adversários de ontem em aliados de hoje. Isso, porque em Santo Antônio, Camargo Corrêa e Chesf encabeçaram um dos consórcios, enquanto Suez e Eletrosul estiveram em outro. E ambos foram derrotados pelo grupo liderado por Odebrecht e Furnas, que levou o empreendimento ao oferecer um preço 35% menor que o valor-teto de R$ 122 por megawatt/hora (MWh) estabelecido pelo governo federal para a usina. O lance causou espanto em quase todo o setor elétrico brasileiro.

O consórcio liderado por Odebrecht e Furnas estará no leilão de Jirau, marcado para 19 de maio. E as empresas terão a seu lado os mesmos parceiros de Santo Antônio, ou seja, a construtora Andrade Gutierrez, a estatal mineira Cemig e um fundo de investimento composto pelos bancos Santander e Banif.

Mas essa formação poderá ser desfeita após o leilão, mesmo em caso de vitória. Pelo menos foi o que disse o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Cemig, Luiz Fernando Rolla. De acordo com o executivo, a empresa vai reunir o seu Conselho de Administração cinco dias após o leilão de Jirau para avaliar o empreendimento. "Aí vamos ver se ficamos ou não no projeto", afirmou Rolla. O diretor da Cemig, contudo, tratou de assegurar que a usina de Jirau se encaixa na política de investimento da companhia.

A disputa por Jirau promete ser intensa, mas não deverá registrar forte deságio. Isso, porque o preço-teto estabelecido pelo governo para o MWh foi de R$ 91, ou seja, bem abaixo de Santo Antônio.

Ciente de que o valor máximo por Jirau não é o preço dos sonhos, a Suez tratou de buscar uma compensação. No próximo dia 16 de maio, portanto um dia útil antes do leilão de Jirau, o consórcio Energia Sustentável vai realizar um leilão para os consumidores livres de energia. A idéia é vender parte dos 30% do insumo, que, segundo as regras de licitação de Jirau, poderá ser destinada ao mercado livre. Fontes do setor acreditam que se for bem sucedida, o consórcio deverá ser mais agressivo na hora de fazer o lance pela hidrelétrica.

O diretor de Finanças da Cemig evitou tecer comentários sobre a estratégia da Suez. Limitou-se apenas a dizer que a Cemig atuará de outra forma, devido à sua participação no consórcio que irá construir Santo Antônio. A inscrição será feita dia 12 de maio. (Colaborou Danilo Jorge, de Belo Horizonte)