Título: Júpiter, promessa de mais fertilizantes
Autor: Barros , Bettina
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2008, Agronegócios, p. B12

A comprovação de novas reservas de gás natural no litoral brasileiro poderá tirar do papel a construção da terceira fábrica de matérias-primas para adubos da Petrobras no país. Anunciada em 2005, a nova unidade é aguardada com expectativa devido à disparada dos preços dos fertilizantes.

"O grande problema é a falta de disponibilidade de gás natural", explicou Mozart Schmitt de Queiroz, gerente-executivo da Diretoria de Gás e Energia da estatal, durante evento na quinta-feira em São Paulo sobre biocombustíveis, no qual os preços dos fertilizantes foram levantados como um dos responsáveis pelo atual encarecimento global dos alimentos.

Segundo Queiroz, o cenário atual no segmento de fertilizantes está levando a Petrobras a repensar a destinação do gás para a produção de adubos. "Se as reservas forem comprovadas, aí o tema deverá ser incorporado na revisão estratégica da empresa neste ano", disse. "Já estamos pensando o que fazer com esse gás... o 'brainstorm' está começando", acrescentou.

Ele se referia ao campo de Júpiter, reserva de gás natural descoberta no início do ano na bacia de Santos, perto do megacampo de Tupi. Com reservas estimadas entre 28 e 45 trilhões de pés cúbicos, Júpiter poderia transformar o Brasil de importador a exportador de gás. Hoje, o Brasil compra da Bolívia quase 50% do que consome.

O gás natural é um das matérias-primas utilizadas para a produção da uréia, composto básico do adubo. Sem ele, é impossível alavancar a produção nacional de fertilizantes no ritmo de crescimento da demanda. Dados preliminares da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) apontam para compras de 5,4 milhões de toneladas no primeiro trimestre do ano, 17,9% mas que no mesmo período de 2007. E isso mesmo com a guinada nos preços, que mais do que dobraram nos últimos 12 meses.

A expectativa em torno de uma terceira unidade de fertilizantes da Petrobras é grande. Com investimento estimado em US$ 1,5 bilhão, ela colocaria no mercado mais 1 milhão de toneladas de uréia e 760 mil de amônia por ano, o que mais que duplicaria as vendas da Petrobras. Hoje, a estatal opera duas plantas instaladas na Bahia e em Sergipe.

De qualquer forma, não seria um negócio para o curto prazo, trazendo o alívio imediato esperado pelos produtores rurais. A comprovação das reservas do campo de Júpiter devem sair apenas no ano que vem, e daí para a sua operacionalização passariam mais ao menos três anos, segundo especialistas no setor.

"Não vejo outro ator que possa entrar nesse mercado, que exige investimentos pesados. Só uma gigante como a Petrobras conseguiria", disse Luis Carlos Guedes Pinto, ex-ministro da Agricultura e atual vice-presidente do Banco do Brasil. Presente ao evento sobre biocombustíveis, Guedes foi um contundente crítico da dependência do Brasil ao adubo importado e cutucou o representante da Petrobras a se mexer. "Queria sugerir a você que fale com o pessoal da Petrobras para produzir mais potássio, fósforo e nitrogênio". Queiroz, da estatal, acenou com a cabeça, mas jogou a bola ao ex-ministro. "Sugiro que o senhor, que transita bem em Brasília, leve essa mensagem".

Para elevar a oferta de matérias-primas derivadas do fosfato, as indústrias privadas prometem investir US$ 4 bilhões em quatro anos.