Título: Diminui a margem financeira dos bancos
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2008, Finanças, p. C8
A redução do juro básico, a mudança do mix de produtos nas carteiras e o aumento dos custos de captação afetaram a margem e desaceleraram a expansão do lucro dos bancos no primeiro trimestre.
Os cinco maiores bancos privados divulgaram um resultado acumulado no primeiro trimestre 10,4% maior do que o de igual período de 2007, de acordo com levantamento feito pela Austin Ratings. Anteriormente, os lucros trimestrais dos bancos aumentavam a uma taxa duas vezes maior, lembrou o presidente da Austin Ratings, Erivelto Rodrigues.
O custo médio de captação dos bancos subiu de 101% para 105% do certificado de depósito interbancário (CDI), atestaram o Itaú e o Unibanco nesta semana, ao divulgar os balanços. A elevação foi conseqüência da maior demanda dos bancos por recursos no mercado doméstico dado o aperto da liquidez internacional e o aumento da demanda por crédito.
Por outro lado, com a maior competição, os bancos não puderam repassar todos os custos. O aumento dos volumes negociados compensa em parte a redução da receita. Colaboram ainda para o resultado final a receita de serviços, que também está sob pressão após a nova regulamentação do Banco Central (BC) e subiu 8% entre o primeiro trimestre de 2007 para igual período de 2008.
No caso do Unibanco, a margem líquida, após as provisões para devedores duvidosos, recuou de 6,7% para 6,3% dos ativos médios excluído o permanente. Segundo o vice-presidente corporativo do Unibanco, Geraldo Travaglia, nem todo o aumento de custo de captação do banco foi integralmente repassado aos clientes.
O cálculo da margem líquida pode variar conforme o banco, mas, utilizando critério semelhante ao do Unibanco, os outros grandes bancos mostram também a redução da margem. No caso do Bradesco, a margem financeira recuou de 7,4% no primeiro trimestre de 2007 para 7,1% do ativo de final de período; e no do Itaú, caiu de 8,1% para 7%.
Travaglia afirmou que a redução da margem dos bancos já era esperada neste ano diante da redução do juro e da ênfase nas operações de menor risco, como o financiamento de veículos e o crédito consignado. No financiamento de veículos, por exemplo, a margem líquida é de 5% e 40% ficam com os dealers de automóveis. "O efeito foi ampliado", disse, pelo encarecimento das captações no mercado doméstico em função da criação do compulsório sobre os depósitos interfinanceiros das empresas de leasing, da introdução do IOF nas operações de crédito e crescimento das operações de atacado.
Travaglia chamou a atenção para o fato de de a margem financeira líquida do banco ter caído menos do que a bruta. A margem líquida leva em conta as provisões para devedores duvidosos. Como a qualidade da carteira de crédito está melhorando, o "o efeito composto final é positivo".
O futuro da margem é cair, disse. Por isso, há quatro anos, o Unibanco resolveu crescer no varejo.
O forte aumento das despesas de captação dos bancos ficou bastante evidente no balanço do Banco Itaú, divulgado no início da semana, com um salto de 195,3% nas despesas de intermediação financeira, das quais apenas as despesas com captações no mercado subiram 210%. Como as receitas de crédito e demais receitas foram robustas e aumentaram 65,1%, o resultado da intermediação financeira foi positivo. O resultado bruto da intermediação financeira ficou praticamente estável em R$ 3,9 bilhões, influenciando decisivamente a queda de 5,4% do resultado operacional, a R$ 2,9 bilhões.
No balanço do Bradesco, divulgado no final de abril, as despesas com intermediação financeira também subiram mais que as receitas, mas com um diferencial bem menor: 24% para 22,2%, respectivamente.
Mas os grandes bancos continuam com bons resultados, graças à expansão do crédito. A carteira do Itaú cresceu 37,8% nos doze meses terminados em março, atingindo R$ 125,66 bilhões. Incluindo fianças e avais, chegou a R$ 137,691 bilhões. A do Bradesco, aumentou 35,9% em doze meses para R$ 144,7 bilhões, chegando a R$ 169,4 bilhões com avais e fianças. E a do Unibanco, cresceu 40,7% para R$ 66,153 bilhões.