Título: IGP-DI mostra inflação mais disseminada
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2008, Brasil, p. A3

A pressão inflacionária, que começou em 2007 com produtos agrícolas e alimentos, disseminou-se nos diferentes setores produtivos. E reajustes em matérias-primas começam a ser repassados na cadeia industrial, chegando a bens finais, é o que revelou o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) de abril, divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O índice registrou alta de 1,12% no mês, acima da variação de 0,7% apontada no mês anterior. A distância entre os preços no atacado e no varejo está cada vez maior - ficou em 7,87 pontos em abril, muito acima dos 2,6 pontos de igual mês de 2007.

Para economistas, a pressão inflacionária, fruto do reajuste de preços internos em relação às cotações praticadas no mercado internacional, não dá sinais de arrefecimento. Em abril, a alta acima do esperado em arroz (27,78%), minério de ferro (13,48%) e adubos e fertilizantes (10,71%) contribuiu para uma aceleração no Índice de Preços por Atacado (IPA), que passou de 0,8% em março para 1,3% no mês passado. O grupo matérias-primas brutas teve alta de 1,9% em abril, contra 0,92% em março. O IPA industrial também apresentou aceleração, atingindo 1,77% em abril, ante 0,94% no mês anterior.

"Houve uma aceleração muito forte nos preços industriais em pouco tempo e há mais aumentos já previstos. A situação está complicada", avaliou Luís Fernando Azevedo, economista da Rosenberg & Associados. Pelos dados da FGV, o grupo bens intermediários subiu 1,88% em abril, contra 1,01% em março, com destaque materiais e componentes para a manufatura que ficou em 1,91% e havia subido 1% em março. Bens finais teve aceleração um pouco menor, de 0,84% (ante 0,36% em março).

Rafael Castro, da LCA Consultores, destacou o repasse de preços na cadeia automotiva. O grupo metalurgia básica teve alta de 3,44%, ante 2,33% em março. Os produtos siderúrgicos evoluíram de 1,46% para 2,8% e automóveis passaram de 0,04% de alta para 1,05%. "Também começa a haver repasses em motores, geradores, máquinas e equipamentos", observa. O índice de difusão (percentual de preços que sobem no IGP), que em março era de 57,89%, passou para 61,4% em abril.

Zeina Latif, economista-chefe do ABN Amro Real, acrescentou que a maior fonte de pressão do IPA vem de tradeables (itens comercializáveis no mercado externo), que apresentam aceleração no mercado externo. Esses produtos no ano passado tiveram a inflação controlada em parte pela valorização do real frente ao dólar, o que não deve se repetir neste ano nos mesmo níveis de 2007.

Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, observou que a alta dos preços no atacado supera a variação do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que ficou em 2,16% em abril. Para ele, os reajustes em preços de alimentos, ainda serão repassados ao varejo em maio. "Houve aceleração nos preços de farinha de trigo, carne bovina e laticínios pagos pelas indústrias e tudo isso também vai bater no varejo", disse.

Outros itens também devem apresentar reajustes no atacado e no varejo em maio são, segundo Quadros. É o caso dos derivados do petróleo, que em março registraram queda de 0,37% e avançaram 1,53% em abril no IPA; óleo combustível, que subiu 1,69% (ante queda de 4,82% em março); diesel e gasolina, que tiveram reajustes autorizados a partir do dia 2. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que subiu 2,33% em abril, também deve se acelerar, por conta dos reajustes salariais que ocorrem no Sudeste e Nordeste.

Sérgio Vale, da MB Associados, alertou para o fato de o núcleo do IPC ter se acelerado, agora para 0,38%, o que impacta a inflação futura de 12 meses, e pode estimular o Banco Central a elevar a taxa básica de juros para até 13,25%.