Título: Atuação do BC no Brasil divide opiniões
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2008, Brasil, p. A3

A maior parte dos países que adotam o regime de metas de inflação já ultrapassou o limite superior da taxa de referência devido ao choque global das commodities. O Brasil, no entanto, mantém como alvo o centro da meta para este ano, de 4,5%, através de uma política de alta nas taxas de juros. Para alguns economistas, há exagero na atuação do Banco Central. Para outros, ela está correta.

Na avaliação da economista da consultoria Tendências, Marcela Prada, as pressões externas de preços exercidas pelos alimentos e petróleo devem continuar por conta do crescimento mundial, especialmente da China. Por isso, diz ela, o BC brasileiro poderia ser mais flexível e mirar o teto da meta, de 6,5%. Marcela, entretanto, argumenta que o panorama brasileiro é de crescimento, o que favorece a disseminação da inflação para produtos e serviços não relacionados diretamente às commodities agrícolas e industriais. "Existe uma preocupação muito grande do BC com o cenário doméstico. Os preços livres já estão acelerando, ainda que pouco. Isso tem a ver com alta de custo e reflete a demanda interna aquecida", disse.

Segundo a economista da Tendências, como a pressão vem de fora, o esforço da política monetária para compensar a inflação desses preços em outros itens de consumo precisa ser muito maior se o objetivo é mirar o centro da meta de inflação. "A maioria dos países está com inflação acima da meta. Estão subindo juros, mas estão tolerando a inflação. Nenhum desses bancos centrais quer arcar com a conseqüência negativa sobre o PIB", disse Marcela, que projeta alta de 4,8% no IPCA para 2008, com viés de alta, mas abaixo do teto de 6,5%. "O rigor de manter no centro pode gerar muito custo sobre a atividade da economia no futuro, mas reduzir um pouco a atividade não é ruim agora", completou.

Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, o Banco Central precisa acomodar os choques externos sobre os preços internos na meta. Caso contrário, as contas externas ficarão cada vez mais negativas. "À medida que o BC diz que vai subir os juros, sinaliza que o dólar vai cair. O déficit em conta-corrente vai aumentar cada vez."

Freitas sugere que em vez de subir a Selic, o BC teria uma resposta mais eficaz para segurar a demanda interna através de uma política de redução do crédito, ao exigir maior capitalização dos bancos em relação ao volume ofertado em financiamentos. "Isso vai afetar a demanda mais rápido e pode acomodar a inflação para abaixo do teto da meta", afirmou.

Caroline Silveira, da Unibanco Asset Management (UAM), avalia que o BC age corretamente. "Em uma primeira análise, o BC teve um movimento excessivo, mas olhando os dados correntes, não dá para tirar a razão deles. Não há sinal de arrefecimento da atividade, os dados estão muito fortes, a indústria automobilística bate recordes atrás de recordes", disse. Ela, que prevê inflação de 5,4% em 2008, enxerga riscos da inflação sofrer pressões de demanda, uma vez que os níveis de uso da capacidade instalada da indústria permanecem elevados, ainda que os investimentos continuem em expansão. Antonio Licha, do Instituto de Economia da UFRJ, vê exagero por parte do BC e sugere o ajuste da meta para cima, como já ocorreu em anos recentes diante de choques externos.