Título: Marcação cerrada sobre o ministro Lupi e o PDT
Autor: Iunes, Ivan; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 18/02/2011, Política, p. 4

Governo avalia como fraco o desempenho do presidente licenciado da sigla na hora de enquadrar sua bancada a seguir a orientação do Executivo na votação do salário mínimo Depois da postura errática na votação do salário mínimo, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, estará sob avaliação constante do Palácio do Planalto nos próximos meses. Embora tenha conseguido reverter votos pedetistas favoráveis ao salário mínimo de R$ 560, articuladores políticos do governo acreditam que Lupi, presidente licenciado do PDT, demorou a agir e evitou se expor na defesa pela remuneração estabelecida pela equipe econômica, de R$ 545. A postura de confronto, inclusive envolvendo colegas de Esplanada, colocou o ministro como alvo prioritário da próxima reforma ministerial.

Ontem, depois da ressaca pela batalha do salário mínimo no Congresso, o governo federal começou a avaliar a atitude de aliados durante a votação de quarta-feira. Por ter trombado com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e só aceitar enquadrar o PDT depois de uma conversa pessoal com a presidente Dilma Rousseff, Lupi conseguiu reunir boa parte da insatisfação do governo, antes direcionada ao PMDB.

A avaliação do Planalto é que o ministro fez exatamente o oposto da conduta defendida por Dilma na primeira reunião interministerial, no mês passado. Na ocasião, ela pediu aos titulares da Esplanada fidelidade, e que evitassem cobranças públicas que expusessem os colegas. Ao bater de frente com Mantega pelos R$ 560 e retardar a intervenção perante os parlamentares de seu partido, Lupi irritou outras legendas da base aliada e, principalmente, o núcleo político do governo. ¿O PDT errou pela sua estratégia. Eles tinham de se aliar o governo. Queremos unidade na base. Enquanto partidos aliados caminharam em uma direção, o PDT resolveu, sozinho, caminhar em outra¿, reclama o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP).

Comparação Mesmo com a contagem final dos votos mostrando que 16 deputados pedetistas haviam votado com o governo e nove foram contrários aos R$ 545, a interpretação do Executivo é que Lupi fez pouco, especialmente se comparado a outros aliados ¿ o vice-presidente da República, Michel Temer, por exemplo, chegou a ir pessoalmente ao Congresso para enquadrar peemedebistas, enquanto o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), convocou deputados licenciados para garantir 100% da bancada em apoio ao Planalto. Em contrapartida, a operação do ministro para conter dissidências se limitou a telefonemas para parlamentares da base e a um encontro dois dias antes da votação.

Ainda assim, a operação não resultou em fechamento de questão pelo mínimo defendido pelo governo, e o PDT liberou os deputados a votar como quisessem. Para a bancada do partido na Câmara, a avaliação petista de que o partido foi infiel na votação é exagerada. ¿Somos aliados do governo, não subordinados. Queremos nos sentar à mesa e discutir. Isso não pode ser tratado como pecado. Dilma está mal assessorada pelo Mantega e o Brasil podia, sim, pagar os R$ 560¿, critica o líder pedetista Giovanni Queiroz (PA).

Um dos deputados dissidentes na votação do mínimo, o parlamentar lembra que os nove que votaram contra o governo seguiram as diretrizes do partido. ¿Não acredito em retaliações ao Lupi por causa dessa votação, até porque a Dilma veio do PDT, é de origem trabalhista e teria orientado a bancada exatamente como nós fizemos caso ainda estivesse na legenda¿, diz Queiroz.

Sem medo de retaliação Izabelle Torres Mesmo com a vitória folgada na votação da proposta que reajustou o salário mínimo para R$ 545, o governo decidiu tratar com mão de ferro os poucos dissidentes. Os porta-vozes do Planalto avisaram ontem que os petistas Eudes Xavier (CE) e Francisco Praciano (AM) podem ser levados à Comissão de Ética do partido. Em reunião no início da semana, a bancada na Câmara rejeitou a imposição de punições aos que não concordassem com o projeto recém-aprovado, mas a ordem palaciana é dar o exemplo agora para inibir o surgimento de novos rebeldes nas próximas votações.

O Planalto também jogou duro com os líderes do PDT, do PP e do PR, siglas nas quais houve insurgentes. Apesar de não sugerir punições diretamente, os porta-vozes do governo transferiram a responsabilidade da retaliação às lideranças da base. O recado foi simples: caberá a cada líder mostrar comando e constranger os poucos integrantes que não seguiram a orientação da legenda. Ontem, o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, deu o tom da pressão e disse que ¿ pelo menos desta vez ¿ a desobediência é uma questão ¿muito mais de bancada do que do governo¿.

Os deputados que integram a base e que votaram contra o reajuste proposto pelo Executivo sabem que o tratamento recebido do Planalto pode piorar. Mas, diante do anúncio de contingenciamento de emendas parlamentares, o discurso dos dissidentes é de que não há muito o que perder. ¿O que não sei é se, diante do veto às emendas, alguma retaliação vai fazer diferença. Suspenderam uma emenda minha de R$ 160 mil muito importante para meu estado. Como o tratamento dado já era esse antes da votação, não vejo como piorar. Pelo menos votei de acordo com minhas convicções e com a alma do meu partido¿, alega Sebastião Bala Rocha (PDT-AP).

Indiferença O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), frequente descumpridor de ordens palacianas, endossa a opinião do correligionário e diz que as ameaças e as pressões não fazem diferença para parlamentares que não possuem ¿negócios¿ com o governo: ¿O que acho absurdo, tanto quanto as ameaças, é o fato de essa maioria esmagadora se comportar como se fosse parte do governo, como se eles fossem ministros. Não foi para isso que fomos eleitos. Não foi para negociar cargos em troca de apoio¿.

O novato Zoinho (PR-RJ) também deu mostras de que não avalia ter muito a perder com a dissidência. ¿Sou aliado, mas não serei manipulado. Vou votar com o governo quando achar que devo. Se quiserem punir, que o façam. Não tenho nada a perder, porque não cheguei aqui com a ajuda deles¿, afirma.