Título: Obama está próximo de vencer a disputa democrata
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Fonte: Valor Econômico, 08/05/2008, Opinião, p. A12
As primárias na Carolina do Norte e em Indiana ampliaram a vantagem de Barack Obama sobre Hillary Clinton na disputa pela candidatura democrata à Presidência dos Estados Unidos. Os resultados não foram tão indefinidos a ponto de deixarem grande margem para uma reviravolta de Hillary, que agora parece estar mais distante do que nunca. Suas esperanças de uma vitória por uma diferença significativa em Indiana não se concretizaram. Sua diferença em relação a Obama foi de apenas 23 mil votos em um colégio eleitoral de 1,25 milhão, ou 50,9% a 49,1%. Por outro lado, Obama deu uma surra em sua rival na Carolina do Norte: 56,2% ante 41,5%. Em tese, a maior ironia da campanha democrata continua pairando no ar: após as primárias mais concorridas da história dos democratas, a palavra final continua nas mãos da máquina partidária. O processo das primárias foi criado para impedir que a cúpula do partido indicasse a seu bel-prazer um candidato, sem submetê-lo à apreciação das bases e tolhendo a possibilidade de novas candidaturas .
Hillary Clinton não está ainda derrotada e pode levar, contra tudo e todos, sua candidatura até a convenção. Diante de resultados desfavoráveis, ela não se intimidou e disse ontem que sua campanha seguirá em frente. Mesmo tendo perdido no voto popular e na contagem de delegados - algo como 1844 delegados para Obama e 1695 para ela -, a candidata tem a seu favor as vitórias conseguidas nos maiores Estados, que são também os que apresentam a maior instabilidade nos votos partidários (os "swinging states"). É um argumento de peso, especialmente quando consideradas as diferenças já não tão nítidas nas pesquisas sobre as chances de qual dos dois democratas se sai melhor ante o rival republicano, John McCain.
A fria aritmética dos números continua a apontar, como ocorreu quase desde o início, que nenhum dos candidatos tem a chance de atingir nas primárias os 2025 delegados necessários para chegar à convenção de agosto já vitorioso. Ainda estão em disputa 217 delegados nas seis primárias restantes - Kentucky, Oregon, Virgínia Ocidental, Dakota do Sul, Montana e Porto Rico. Os três primeiros Estados vão às urnas no dia 20, mas serão incapazes de alterar o resultado a favor de Hillary. Além disso, há 300 dos 796 delegados ainda indecisos o que, pelo menos em tese, dá alguma oportunidade a Hillary. Há também sua reivindicação de que os candidatos das primárias da Flórida e Michigan, não reconhecidas pelo partido, sejam considerados no cômputo final. Mesmo com isso, ela provavelmente não conseguiria superar Obama, porém a decisão final só ocorreria na convenção de Denver, em agosto.
Todo o empenho do casal Clinton está em tentar chegar, de qualquer forma e por todos os meios, até a convenção, e com um esforço de bastidores concentrado procurar obter a maior parte dos votos da máquina burocrática, que pendia inteiramente a seu favor no início da disputa democrata. Obama conseguiu atrair para si um bom número de superdelegados e nada indica que não possa vencer mais esse desafio.
O pêndulo da campanha eleitoral voltou-se contra Obama nas últimas semanas, o que faz de sua vitória na Carolina do Norte e do sufoco em que colocou Hillary em Indiana um novo ponto de apoio rumo a dias melhores. A campanha alucinada do pastor Jeremiah Wright prejudicou a imagem do candidato, porém não ao ponto de um declínio longo ou irreversível, como se temia. As tentativas dos Clinton de colocar a pecha de elitista em Obama revelou-se no final o que era desde o princípio - uma ridícula tentativa de marqueteiros equivocados.
Novas surpresas podem estar a caminho em uma campanha tão cheia delas. A divisão democrata é preocupante. Pesquisas indicam que a metade dos eleitores de Hillary Clinton nas primárias poderia não votar em Obama e uma parcela deles até mesmo despejaria seu voto em McCain. Obama cativou os independentes e levou-os em números recordes para as cabines de votação, ultrapassando as resistências dos bastiões conservadores do partido. Há uma nova maratona à sua frente - terá de ganhar a convenção e, depois, conseguir todo o apoio possível dos democratas e reunificá-los para a dura batalha contra McCain.