Título: Setor de PCs dá sinais de desaceleração
Autor: Borges , André , Bispo , Tainã
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2008, Empresas, p. B3

Depois de viver os melhores quatro anos de sua história, o mercado brasileiro de computadores pessoais (PCs) começa a dar sinais de desaquecimento. Essa é, ao menos, a conclusão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou nesta semana os resultados da produção industrial do país.

Os números surpreenderam boa parte dos analistas e empresários ouvidos pelo Valor. Segundo o IBGE, o setor de máquinas para escritório e equipamentos de informática - que engloba computadores, monitores, impressoras, caixas de auto-atendimento (ATMs) e periféricos - registrou a maior queda entre os 27 setores medidos no primeiro trimestre do ano. A produção entre janeiro e março foi 12% menor que a do mesmo período de 2007. Se destacado apenas o mês de março, o saldo negativo é de 5,8% ante fevereiro, e de 16,9% sobre o mesmo período do ano passado.

"Estamos diante de um setor que viveu seu momento de pico, mas que agora começa a passar por um ritmo menos acelerado", diz Isabella Nunes, gerente da pesquisa de produção industrial do IBGE. A analista lembra que em 2006, enquanto a produção industrial do país cresceu 3%, o setor de bens de informática sozinho saltou 51,6%.

"O efeito das ações do governo tem começo, meio e fim", diz Isabella. "O que vemos nesse início de ano não reflete um saldo negativo, apenas um ritmo mais moderado de crescimento."

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), é comum grandes empresas do setor aproveitarem o início do ano para ajustar seus estoques devido à produção em larga escala do fim de ano. Essa seria outra razão para o ritmo mais lento.

Outro fator que também pode ter afetado a produção é a greve dos auditores da Receita Federal, iniciada no dia 18 de março. Como a maior parte dos componentes de informática é importada, fabricantes locais são prejudicados por não terem seus produtos liberados na alfândega.

"Muitos varejistas superestimaram a venda de Natal e ficaram com produtos estocados no primeiro trimestre do ano", diz Claudio Dias, presidente da fabricante Syntax. "Esse período geralmente é mais fraco. Não há vendas para o governo e as negociações com empresas são menores."

O crescimento da empresa no período, estimado em 20% em relação ao mesmo trimestre de 2007, foi reduzido à metade. "Esperávamos um resultado mais forte no varejo, algo que não aconteceu", afirma Dias.

As fabricantes do setor não acreditam que a maré baixa irá perdurar por muito tempo. "O mercado já está retomando o ritmo", afirma Renato S. Lombardi, gerente de marketing da Kelow.

A queda de produção apontada pelo IBGE, no entanto, não encontra respaldo entre algumas empresas. "O primeiro trimestre do ano foi um dos melhores da nossa história", comenta Odivaldo Moreno, presidente da fabricante de impressoras Epson. "Nossa vendas cresceram mais de 30% em relação ao mesmo trimestre de 2007 e não diminuímos a produção."

Na Samsung, a fabricação de monitores e discos rígidos (HDs) também registrou taxas de crescimento. O mesmo se viu com a fabricante de computadores e notebooks Microboard, que cresceu 33% nos três primeiros meses do ano.

A empresa planejava ter uma receita 50% maior neste ano. Porém, com a greve dos auditores da Receita Federal, iniciada no dia 18 de março, a previsão é de será uma vitória se o faturamento ficar igual ao do ano passado. "Usamos mais de 2 mil peças para montar nossos produtos", diz Ivan Lukasevicius, vice-presidente da Microboard. Por falta de componentes, a produção da empresa despencou 80% em abril. Os 200 funcionários da fábrica, em Itajubá (MG), estão há um mês em cursos e treinamento. "A produção está parada."

Se não terminar este mês, a greve também poderá afetar a rotina da fábrica da Syntax, em Ilhéus (BA). "As vendas não foram tão aceleradas no primeiro trimestre. Mas, se o mercado voltar a reagir, faltará produto", diz Dias.

Na Samsung, o volume de produção não mudou, mas segundo Benjamin Sicsú, vice-presidente da companhia, a fábrica já chegou a entregar monitores e discos rígidos para parceiros que não conseguiram concluir a montagem de computadores por falta de componentes.

Sicsú lembra que boa parte dos grandes fabricantes de equipamentos não deverá ser afetada pela paralisação dos auditores por ter acesso ao Regime Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado (Recof). A regra facilita a importação de componentes, que não precisam passar pela auditoria da Receita no momento de desembarque.

"A greve impacta o mercado porque boa parte da produção depende de insumos importados, mas quem deve ser mais afetado são as pequenas companhias que não têm acesso ao Recof", afirma Ivair Rodrigues, analista de mercado de serviços da empresa de pesquisas IT Data.

No ano passado, de acordo com a consultoria IDC, o Brasil comprou 38% mais PCs que em 2006, fechando o período com 10,7 milhões de unidades vendidas. O volume colocou o país na quinta colocação no ranking dos maiores mercados mundiais de microcomputadores, com potencial para chegar à terceira posição em 2010.

No primeiro trimestre deste ano, as vendas de computadores pessoais na América Latina chegaram a 6,3 milhões de unidades, com alta de 19,1% sobre o mesmo período do ano passado. O interesse pelo mercado nacional não só levou os principais fabricantes a ampliar suas linhas de produção no país, mas fez também com que novas empresas entrassem na disputa do setor. É o caso de nomes como Philips e Sony, entre outras companhias de menor porte.

Mesmo com a entrada de novos investimentos, o segmento de informática ainda tem uma participação mínima quando comparado ao bloco industrial do país. Segundo o IBGE, o setor representa 1,9% da balança industrial. "Isso não significa que ele seja desprezível", comenta Isabella Nunes. "Há um impacto direto em toda a indústria."