Título: Carne suína dispara no exterior, mas embarques do Brasil recuam
Autor: Rocha , Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2008, Agronegócios, p. B13
O mercado internacional de carne suína está aquecido, com preços em elevação, mas o Brasil não está aproveitando o momento favorável, avalia Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). A razão é a ainda forte dependência das exportações à Rússia - país que começa a estimular a produção doméstica de suínos e já segura as compras do Brasil.
No mês passado, os preços da carne suína na exportação alcançaram US$ 2.682 por tonelada, 11,65% mais do que em março e 35,74% superior a abril de 2007, conforme Abipecs. Os embarques brasileiros no período, porém, caíram 20,92%, para 48.725 toneladas. Os preços mais altos garantiram aumento de 7,34% na receita, que somou US$ 130,667 milhões.
De acordo com Camargo Neto, a queda dos embarques foi motivada pela greve dos auditores da Receita Federal e pela menor venda para o mercado russo, que comprou 24.333 toneladas em abril, 26,5% menos que no mesmo mês do ano passado.
A forte demanda por carne suína na Ásia é um dos motores das altas do produto no mercado internacional. Além disso, a valorização dos grãos - insumo para a ração dos animais - também afeta as cotações da carne suína, explica o dirigente. Um desequilíbrio na oferta de carne suína na Ásia por conta de problemas sanitários na China, principalmente, explica a demanda aquecida.
Naquele continente, contudo, o Brasil só vende para Hong Kong e Cingapura, e está fora de Japão, China, Coréia do Sul e Filipinas, disse Camargo Neto. E o Japão, um mercado que chancelaria a entrada da carne suína brasileira em outros países, parece ainda distante.
Na semana passada, o ministro da Agricultura japonês Masatoshi Wakabayashi, esteve em Brasília, e ouviu de seu colega Reinhold Stephanes pedido de "empenho na abertura da importação de carne suína procedente de Santa Catarina" pelo Japão.
O secretário de Defesa de Agropecuária do ministério, Inácio Kroetz, não acredita, porém, numa "solução de curto prazo" para a tentativa de acessar o mercado japonês. Segundo ele, o ministro da Agricultura do Japão reiterou que seu país não aceita o critério de regionalização para febre aftosa, utilizado no Brasil e reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Santa Catarina é reconhecida como livre de aftosa sem vacinação pela entidade.
Kroetz informou que solicitou uma reunião bilateral com um representante do Japão, na próxima reunião da OIE em Paris, entre 26 e 30 deste mês, para discutir o tema.
Se exportar para o Japão ainda parece algo distante, uma boa notícia veio dos Estados Unidos. O país confirmou que enviará uma missão veterinária a Santa Catarina, em junho, para coletar dados para análise de risco das exportações de carne suína. "Se o resultado da análise de risco for positivo, mesmo que os EUA não abram, isso pode favorecer a abertura de outros mercados para Santa Catarina", afirmou Camargo Neto. A razão é que as decisões do APHIS, autoridade sanitária americana, são, muitas vezes, usadas como referências por outros países.
Camargo Neto acredita que a análise de risco dos EUA pode ser encerrada até o fim deste ano. Depois, o tema vai à consulta pública.
Kroetz também comemorou a vinda da missão. "[O processo com os EUA] está mais adiantado que o do Japão", afirmou.