Título: Objetivo de captação do Tesouro é melhorar liquidez do Global 2017
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2008, Finanças, p. C2

O Tesouro não foi ao mercado externo com objetivo de obter recursos. A captação de US$ 500 milhões foi realizada para construir uma curva de juros pós-grau de investimento, abrir espaço para captações do setor privado e aumentar a liquidez do Global 2017, que o Tesouro pretende transformar em uma referência, diz Alexei Remizov, responsável pela área de mercado de capitais do HSBC, que, junto com o Deutsche Bank, liderou a transação realizada ontem. O Tesouro informou que vai continuar a realizar operações "qualitativas" no mercado externo, o que significa reforçar as posições dos títulos de dez e trinta anos.

"O Tesouro não precisa de dinheiro em dólar", lembra Remizov. As reservas internacionais, o caixa em moeda estrangeira, estavam em US$ 194 bilhões no dia 6 último e a dívida externa é negativa em termos líquidos. Segundo explica Remizov, o governo federal resgatou US$ 7 bilhões em títulos da dívida externa no ano passado e mais US$ 480 milhões nos primeiros meses deste ano. "Ele faz gerenciamento dos passivos e melhora a curva de juros ao recomprar antecipadamente os títulos menos líquidos e reforçar o lançamento de papéis mais líquidos", comenta.

Considerando-se a operação realizada ontem, há US$ 2,5 bilhões do Global 2017, de vencimento em 17 de janeiro de 2017, nas mãos do mercado. A primeira emissão foi em 7 de novembro de 2006, no total de US$ 1,5 bilhão com prêmio de risco de 159 pontos básicos sobre os títulos do Tesouro dos Estados Unidos e retorno de 6,249% ao ano para o investidor. Sua primeira reabertura foi em 11 de abril de 2007, quando o Tesouro obteve US$ 750 milhões com rendimento de 122 pontos básicos, menor do que os 140 pontos básicos de agora. É importante notar que o mercado era outro naquela época: a crise de hipotecas de alto risco nos EUA não havia se espalhado para os emergentes. É importante lembrar também que o prêmio de risco Brasil atingiu seu ponto mais baixo em 18 de junho de 2007, quando chegou a 138 pontos básicos. Ontem, estava acima de 200 pontos.

No entanto, por causa da queda no rendimento dos títulos do Tesouro americano de vencimento em dez anos, o rendimento fixo do Global 2017 de agora foi de 5,299% ao ano, abaixo dos 5,888% ao ano de abril de 2007. Essa é a primeira emissão da República desde 19 de junho, na terceira reabertura do Global 2028, papel denominado em reais. Naquela oportunidade, foram captados R$ 750 milhões com taxa de retorno de 8,626% ao ano. É a primeira emissão em dólar em 12 meses.