Título: Preços agrícolas sinalizam mais pressão em maio
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2008, Brasil, p. A2

A inflação de alimentos, que no ano passado foi responsável por metade da variação do IPCA, tende a registrar nova aceleração no mês de maio, levando-se em consideração a alta de preços no atacado e que fatalmente é repassada em algum nível ao varejo.

No primeiro decêndio de maio - cuja coleta de preços ocorreu entre 21 e 30 de abril - , o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), subiu 1,36%, ante alta de 0,33% em igual intervalo no mês de abril. O Índice de Preços ao Consumidor desacelerou, ficando em 0,27%, ante alta de 0,4% em abril.

No varejo, o grupo alimentação também apresentou recuo, de 0,84% em abril para 0,35% nos primeiros dez dias de maio, por conta de queda nos preços de hortaliças e legumes (1,77%) e frutas (1,09%). No acumulado de 12 meses, no entanto, o IPC de alimentos registra de 10,56%, superior aos 10,28% alcançados no acumulado de 2007.

E tende a se acelerar mais neste mês com o repasse da alta de ocorre no atacado, avalia Fábio Silveira, sócio da RC Consultores. Na prévia do IGP-M, o Índice de Preços por Atacado saiu de uma alta de 0,26% em abril para 1,82% no decêndio. Além do minério de ferro, que subiu 29,49% no período (ante queda de 6,12% em abril), contribuíram para a aceleração a soja em grão, que subiu 1,07% (em abril havia caído 8,12%) e arroz, que registrou valorização de 32,76%, ante queda de 1,24% no mês anterior.

As variações foram apuradas no fim de abril. Nos oito primeiros dias de maio, o indicador de preços agrícolas da RC, que leva em consideração uma cesta de 14 itens, apontou alta de 2,3% dos preços agrícolas no atacado. "Essas variações serão repassadas para o varejo", afirma. Ele pondera, no entanto, que os preços das commodities agrícolas no mercado internacional não registram aceleração desde abril. Ainda há dúvidas se a nova safra americana em fase de plantio permitirá que esse quadro se mantenha. Se isso ocorrer, a inflação de alimentos no Brasil pode apresentar algum alívio a partir do segundo semestre, segundo Silveira. "O mercado doméstico leva de dois a três meses para absorver os impactos do mercado externo."

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, observa que além dos itens apontados no índice da RC, valorizações que ocorreram nos preços de arroz e trigo no atacado no fim de abril também devem recair sobre o varejo. Em abril, os dois produtos contribuíram para que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrasse alta de 0,55%, acumulando em 12 meses 5,04% de variação, acima dos 4,73% identificados nos 12 meses até março e da meta de inflação do governo para 2008, de 4,5%. Os alimentos subiram 1,29% em abril pelo IPCA, respondendo por 0,28 ponto percentual da inflação do mês. Entre os itens que mais subiram estão o pão francês, que variou 7,33%, seguido por farinha (6,8%), pelo pão doce (3,02%), macarrão (2,34%) e pão de forma (1,12%). No ano, os alimentos tem inflação acumulada de 4,37%.