Título: Petrobras entrega supercomputador
Autor: Rosa , João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2008, Empresas, p. B1

Numa época em que todo mundo quer ter o menor computador possível, as dimensões do Netuno - o supercomputador que será inaugurado, hoje, no Rio de Janeiro - são desconcertantes: o equipamento pesa 15 toneladas, tem 2,20 metros de altura e está disposto em 10 armários metálicos, que ocupam oito metros de comprimento. A facilidade de uso, outro ponto tão valorizado pelo usuário comum, também não é o forte da máquina, criada com recursos da Petrobras: só para mantê-la em funcionamento, é necessária uma equipe de 15 e 20 pessoas.

"O Netuno já está em funcionamento, mas em caráter de teste", explica o pesquisador Sérgio Guedes, coordenador do projeto na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde o supercomputador está instalado. "Vamos liberar seu uso aos primeiros usuários nos próximos 15 a 20 dias, mas o computador só estará funcionando em plena capacidade no prazo de 4 a 5 meses."

Embora chamado de supercomputador, o que parece indicar um equipamento único, o Netuno é na verdade um "cluster". São máquinas interligadas por uma rede de comunicação e que funcionam como se fossem uma coisa só. O poder de processamento do Netuno é o de 256 servidores, as máquinas que administram os recursos das redes.

A Petrobras investiu R$ 5,8 milhões no projeto, mas o supercomputador será operado por uma equipe da UFRJ e usado exclusivamente para pesquisas acadêmicas, em áreas como geofísica e oceanografia. Os benefícios para a companhia petrolífera serão indiretos. "Podemos, por exemplo, vir a adotar uma técnica que tenha sido testada inicialmente no Netuno", afirma o geofísico Ricardo Bragança, do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes).

O envolvimento da companhia é decorrência de um artigo da Lei do Petróleo (Lei 9.478/97), regulamentada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em 2005. Pela norma, 1% da receita bruta gerada pelos chamados campos gigantes - jazidas capazes de produzir, sozinhas, a partir de 1 bilhão de barris - tem de ser aplicada em pesquisa. Na Petrobras, isso representa atualmente um orçamento de R$ 500 milhões. Pela lei, metade dos recursos podem ser investidos internamente; os demais 50% devem ser direcionados a instituições brasileiras de pesquisa.

A Petrobras criou um sistema de redes temáticas para aproximar-se das universidades e facilitar o recebimento de projetos acadêmicos. São 38 redes. Cada uma delas tem acordos de cooperação pré-aprovados com centros de pesquisa. "Os convênios incluem mais de 70 instituições, em 18 Estados", informa Bragança. Só em uma das redes, a de geofísica, há 22 projetos em andamento, entre aprovados, assinados e em análise.

O Netuno é o primeiro de uma série de cinco supercomputadores que a Petrobras pretende instalar em universidades brasileiras. O orçamento previsto, sem contar os recursos dessa primeira empreitada, é de R$ 24 milhões. "A idéia é criar uma grade computacional", explica Bragança.

Com o Netuno, os organizadores do projeto esperam ocupar uma posição de destaque no Top 500, ranking que mede os maiores computadores do mundo. "Nos resultados do ano passado, estaríamos em 70º lugar. A expectativa é de ficarmos entre o 80º e o 90º lugares na próxima edição", diz Guedes. "Na América Latina, desconheço outro computador (voltado exclusivamente ao meio acadêmico) que tenha um desempenho parecido".

O Netuno foi montado pela Cimcorp, que integrou as máquinas fornecidas pela Dell. Os processadores são da Intel e a rede de comunicação é da Cisco Systems.

A UFRJ foi escolhida para abrigar o Netuno por sua experiência em áreas de pesquisa como geofísica, oceanografia e computação, mas os pesquisadores das redes envolvidas podem submeter seus projetos para utilizar o equipamento.

Mesmo antes de entrar em funcionamento, o supercomputador já superou seu primeiro dilema: alguns pesquisadores queriam batizá-lo de Zeus; outros, de Iemanjá. Venceu a terceira via: Netuno, o deus romano dos mares.