Título: Reforço no BNDES
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 18/02/2011, Economia, p. 12

O governo vai ampliar a capacidade de conceder financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal (CEF) em cerca de R$ 130 bilhões, por meio do aumento do capital social de ambas as instituições em R$ 6,4 bilhões e R$ 2,2 bilhões, respectivamente. A permissão foi dada ontem, por meio de decreto publicado no Diário Oficial da União, que prevê a transferência de ações da Petrobras e da Eletrobras para os dois bancos.

O fôlego para conceder mais crédito será possível porque, segundo as regras prudenciais fixadas pelo Banco Central, a quantidade de concessões depende da reserva patrimonial da instituição. No caso do BNDES, o aporte permitirá cerca de R$ 100 bilhões a mais em financiamento, enquanto a Caixa terá a sua capacidade ampliada em R$ 30 bilhões. A capitalização será realizada pelo Tesouro Nacional, que, como sempre, recusou-se a detalhar as operações.

O texto do decreto estipula que as ações excedentes ao necessário para a União manter o controle da Petrobras e Eletrobras serão repassadas para os bancos, sem emissão de novos títulos. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, limitou-se a afirmar que a decisão sinaliza a disposição do governo em reforçar o caixa das duas instituições.

O vice-presidente de controle e risco da Caixa, Marcos Vasconcelos, destacou que a ampliação de capital estava sendo negociada com a União desde o segundo semestre do ano passado. ¿A operação ampliará nossa margem para emprestar e, consequentemente, fortalecer a instituição para continuar ampliando a carteira de crédito¿, comentou. A capacidade adicional de empréstimo não tem destinação definida, mas deve ser direcionada em maior volume ao setor habitacional. O estoque de recursos destinados ao financiamento de moradias encerrou 2010 em R$ 108 bilhões, segundo Vasconcelos, com avanço de 53,6% sobre o ano anterior. A expectativa para este ano é de expansão de 30%.

Para João Augusto Salles, economista da Consultoria Lopes Filho, a manutenção de aportes regulares de capital é importante, mas deve ser vista com ressalvas. ¿O governo está mantendo a mesma estratégia do pós-crise, quando o BNDES, a Caixa e o Banco do Brasil foram usados como instrumentos para sustentar a atividade econômica. Acho que a saída foi boa para tirar o pé da lama, mas a economia não precisa mais desses estímulos¿, avaliou.

O economista destacou ainda que a interferência do governo no mercado de crédito, em momentos de aquecimento da atividade e de disparada da inflação, como agora, pode acabar sendo paga pelos contribuintes. ¿Esses bancos são de economia mista.Qualquer eventual prejuízo cairá na conta de quem paga impostos¿, afirmou.

Otimismo em baixa » A queda no ritmo da atividade doméstica e a ameaça que as importações vêm impondo à cadeia produtiva brasileira derrubaram o otimismo dos empresários no início do ano. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) recuou de 67,8 pontos em fevereiro de 2010 para 61,8 pontos no mesmo período deste ano, em uma escala que vai de zero a 100 e na qual valores acima de 50 ainda indicam boas perspectivas. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o indicador registrou seu maior nível em janeiro de 2010 (68,7 pontos) e, desde então, segue trajetória descendente. Para Marcelo Azevedo, economista da CNI, os empresários estão menos confiantes porque não contam mais com a expectativa da recuperação pós-crise, clima que predominava nos três primeiros meses do ano passado. ¿Naquela época, além do impulso depois da recessão, vários setores tiveram desonerações e reduções de impostos, o que elevou o ânimo do empresário¿, afirmou (GC)