Título: Desmontados recuperam exportações
Autor: Camarotto , Murillo
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2008, Empresas, p. B8

Os veículos desmontados (CKD, na sigla em inglês) estão protagonizando um movimento de certa forma inesperado pela indústria automotiva nacional: o crescimento das exportações em volumes. Mesmo com a contínua valorização do real sobre o dólar, entre janeiro e abril deste ano o número de unidades vendidas no exterior mostrou crescimento de 1,7% sobre o mesmo período de 2007, para 245,4 mil automóveis, considerando montados e CKD. Em todo o ano passado, as exportações caíram 6,6%, em razão do câmbio desfavorável.

A inversão dessa curva era relativamente inesperada pela indústria. Em suas projeções para 2008, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) ainda segue apostando na redução do número de unidades exportadas. Ainda, pois há grandes chances de a entidade anunciar em junho uma revisão de suas expectativas, e as exportações devem fazer parte desse novo cenário.

O presidente da Anfavea, Jackson Schneider, disse ao Valor que os veículos CKD estão entre os grandes responsáveis pelo crescimento das exportações em 2008. Segundo ele, a demanda por essa categoria de produto vem sendo puxada por América Latina, Ásia e África, onde existem unidades industriais com capacidade para montar os veículos.

Entre janeiro e abril, as vendas externas de CKD somaram 56 mil unidades, uma alta de 8,7% em relação ao mesmo período de 2007. Os veículos montados, por sua vez, mostraram queda de 0,2%, para 189,4 mil unidades. No mês de abril, o crescimento dos CKD foi de 41,8%, para 15,9 mil unidades. A participação média desse tipo de produto nas exportações totais ficou em 22,7% durante o primeiro quadrimestre, contra 19,7% apurados durante o ano passado.

Entretanto, a Anfavea ainda não tem uma perspectiva clara sobre a tendência da demanda para os veículos desmontados. Segundo Schneider, a entidade vai observar os movimentos e as manifestações dos clientes das montadoras no exterior.

Apesar da melhoria observada nos quatro primeiros meses do ano, a associação continua preocupada com a influência do câmbio sobre as exportações. Schneider disse que a Anfavea recomendou ao governo algumas medidas para viabilizar o aumento da competitividade do automóvel brasileiro no mercado externo. As propostas foram feitas no âmbito da nova política industrial, que será anunciada hoje. Segundo ele, essas medidas poderiam ser "creditícias, tributárias ou administrativas", porém o executivo preferiu não detalha-las.

Além do câmbio, as preocupações do setor passam pela oferta de aço e a conseqüente pressão sobre os preços do insumo, que representa cerca de 25% dos custos da cadeia. Segundo Schneider, cada montadora tem autonomia para repassar esses custos para os preços dos automóveis, porém já estão negociando com as siderúrgicas formas de evitar uma alta muito elevada.