Título: Mercado em alta requer mais foco em inovação
Autor: Boarini , Margareth
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2008, Especial, p. F5

Cândido Malta: área de energia vai concentrar grandes projetos inovadores Os inúmeros nós decorrentes do crescimento desenfreado das cidades poderiam ser reduzidos se o planejamento urbano e os investimentos em obras públicas e privadas fossem prática constante. Mas projetos que visam evitar ou aliviar gargalos urbanos como os congestionamentos, por exemplo, são raros tanto pela falta de cultura em se investir no planejamento das cidades quanto por restrições econômicas. O que os especialistas do setor defendem é a busca de soluções que casem idéias inovadoras tecnologicamente com medidas eficazes já adotadas em outros países e que não necessariamente sejam consideradas novas, como expansão do metrô e de investimentos no transporte público como um todo.

A preocupação ambiental tem gerado iniciativas eficazes. Há projetos que priorizam desde a economia de energia até a concentração de áreas destinadas a trabalho, prestação de serviços e moradia. "Embora sob uma ótica simplista isso possa parecer apenas uma coisa boa no que se refere às facilidades de quem freqüenta o ambiente, o impacto de uma iniciativa dessas na cidade é muito positivo, uma vez que reduz o número de pessoas que circulam em outras regiões, diminuindo o trânsito e a poluição, por exemplo", afirma o professor Alex Abiko, titular do departamento de engenharia civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Para Abiko, o desafio da sociedade e da engenharia é adotar projetos inovadores que contemplem a continuidade do crescimento aliada à sustentabilidade ambiental. "Projetos inovadores existem. É preciso que haja investimentos, públicos ou privados, para que sejam implantados e as PPPs poderiam auxiliar nesta questão", diz.

Cândido Malta, planejador urbano e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, acredita que a área da energia deverá concentrar os grandes projetos inovadores e cita como exemplo o fato de o Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP (IPT) estar desenvolvendo parâmetros de medição próprios para o Brasil para a criação de um selo verde que ateste a qualidade de obras preocupadas com esta questão. A aposta maior do urbanista, porém, para melhorar a vida nos grandes centros urbanos está no investimento em transporte subterrâneo, para reduzir a poluição ambiental e diminuir os congestionamentos.

"Nosso sistema viário é acanhado demais, bem diferente do norte-americano, e apenas a construção de pontes e avenidas não seria o suficiente. Com a entrada de 200 mil novos veículos ao ano, deveríamos construir 12 novas avenidas como a Brigadeiro Faria Lima (SP) em igual período. Além disso, nossos carros não são tão "limpos" como poderiam ser", atesta. Para ele, o ideal é acelerar a expansão do metrô a exemplo do sistema implantado em Paris ou Londres, para que a população deixe o carro em casa. "Não se trata de uma inovação, mas da adoção de uma tecnologia já testada e aprovada." Malta frisa, porém, que a idéia não é acabar com os automóveis: "Temos que continuar a comprar carros e manter o desenvolvimento econômico, mas temos que usá-los menos dentro dos grandes centros como acontece em países europeus".

Casar a inovação tecnológica inerente à engenharia com uma visão mais humanista ainda nos bancos das universidades é um dos pontos de destaque do projeto Inova Engenharia, lançado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com o apoio de entidades dos setores públicos e privados. "O profissional da área tem que aliar excelente formação técnica com cultural e humanística. Não dá mais para termos cursos muito abstratos", defende o coordenador do comitê gestor do projeto, Marcos Formiga, também professor do Laboratório de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília.

Segundo pesquisa feita pelo Inova, as empresas vêm ampliando a parceria com as escolas nos últimos anos, não apenas para suprir eventuais faltas de equipamentos em laboratórios como também deficiências de práticas exigidas pelo mercado.

Para Edemar de Souza Amorim, presidente do Instituto de Engenharia, essa atenção à profissão é estratégica já que o engenheiro é o condutor da inovação. "O atual aquecimento econômico favorece a profissão. Temos hoje investimentos disponíveis e soluções a serem tomadas para melhorar a vida nos grandes centros. Vivemos um período parecido com a década de 70." O que falta agora, porém, é o profissional. Depois de anos de projetos engavetados, boa parte dos engenheiros civis migrou para áreas mais promissoras financeiramente. Agora, o mercado sofre com a carência de profissionais.