Título: Empresários temem juros e câmbio
Autor: Grabois , Ana Paula ; Góes , Francisco
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2008, Brasil, p. A4

O pacote de financiamentos e desonerações fiscais anunciado ontem pelo governo foi bem recebido pelo empresariado. Mas levantou dúvidas quanto à capacidade de estimular a continuidade do ritmo de investimento e a recuperação das exportações diante da perspectiva de novas altas na taxa de juros básica, a Selic, pelo Banco Central. Também pesou nas avaliações dos empresários a valorização do real sobre o dólar, que tira competitividade das exportações, e também das empresas que vendem no mercado interno e sofrem a concorrência de importações de outros países, como a China.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse que as medidas do governo foram positivas no intuito de deixar a indústria mais competitiva, mas não poupou críticas à política monetária do Banco Central. "Tem algumas questões colocadas na teoria que vamos ver como vai ser na prática, porque com os juros subindo não se vai estimular investimento e não estimulando investimento não se tem aumento de oferta, o que é um dos princípios do programa. E com câmbio sobrevalorizado é muito difícil aumentar as exportações", afirmou Skaf.

"Mesmo com condições melhores, o dólar é questão primordial", reconheceu Luiz Aubert Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). "As medidas para nós são boas, representam um primeiro passo", avaliou Aubert Neto. Ele reconheceu que, apesar do pacote anunciado ontem, as empresas de bens de capital continuarão a enfrentar dificuldade para competir com os fabricantes chineses por força do câmbio.

Ele elogiou a ampliação do prazo da Finame e a depreciação acelerada dos investimentos, que beneficia sobretudo grandes empresas. "Se as medidas forem implementadas de forma rápida, será possível levar a taxa de investimento a 21% do PIB. Mas o grande problema é o hiato entre a fala e a ação", disse Aubert.

José Carlos Grubisich, presidente da Braskem, considerou a política abrangente, mas também manifestou cautela ao avaliar que o conjunto de ações e iniciativas irá requerer coordenação entre os diferentes órgãos de governo. "A política dá um sinal de para onde o Brasil quer ir, mas vai exigir trabalho de gestão e cuidado muito grande na implementação", disse.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, avaliou que as medidas ajudam a "minorar" a valorização do real. A nova política fiscal incluiu uma série de medidas de estímulo à exportação, entre as quais a ampliação do Programa de Financiamento às Exportações (Proex). O orçamento do Proex passa de R$ 500 milhões para até R$ 1,3 bilhão por ano e haverá aumento no limite de faturamento das empresas que podem utilizar o programa.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que as medidas compensam parte das perda de competitividade devido à valorização do real sobre o dólar. "Acredito que com as medidas que nós estamos tomando agora estaremos, sim, compensando uma parte do custo da valorização, que sobe preço. E nós reduzimos o preço com medidas de redução de custos financeiros e tributários e isso dá mais competitividade às empresas brasileiras", afirmou.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse que o êxito do plano depende de um ajuste fiscal que retire da política monetária todo do ônus da manutenção da estabilidade econômica. Jorge Gerdau, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, considerou como um avanço a meta de ampliar o investimento para 21% do PIB em 2010. E classificou a redução dos juros do BNDES como um instrumento extremamente importante.