Título: Biometria e lixo eletrônico entram na pauta do TSE
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/05/2008, Empresas, p. B3

Troca de sistema operacional, adoção de equipamentos de biometria, desenvolvimento de software e reciclagem de lixo eletrônico. Assuntos que se tornaram comuns nos departamentos de tecnologia das grandes empresas também estão cada vez mais presentes nas eleições e mostram como o processo eleitoral do país transformou-se em um complexo projeto de tecnologia da informação (TI).

No dia 5 de outubro, a Justiça Eleitoral realizará seu 14º pleito usando urnas eletrônicas. O processo começou em 1996. De lá para cá, a tecnologia ganhou tal importância dentro do Tribunal Superior Eleitoral que hoje existe praticamente uma empresa de TI operando dentro do TSE.

Giuseppe Dutra Janino, secretário de tecnologia do tribunal, coordena um time de 250 técnicos dedicados ao desenvolvimento dos sistemas usados nas urnas. Estima-se que, apenas com tecnologia para realizar as eleições, os gastos do TSE atinjam R$ 360 milhões.

Janino, que é co-autor do primeiro modelo de urna usada no país, doze anos atrás, diz que a adoção do sistema operacional Linux é uma das principais inovações deste ano. O sistema operacional é a base da programação da urna onde são inseridos os dados dos candidatos e os aplicativos de segurança e de contagem de votos.

O Linux, que tem código aberto - o que significa que pode ser alterado por qualquer programador - vai substitui os sistemas Windows CE, da Microsoft, e o VirtuOS, da brasileira Microbase, que até então rodavam nas urnas eleitorais. "Tínhamos dificuldades de abrir 100% desses programas para que os partidos pudessem examiná-los", diz Janino. "Com essa mudança, vamos garantir mais segurança e transparência."

O TSE também espera reduzir seus custos com a adoção do Linux, mas o impacto dessa redução ainda não foi medido porque o sistema costumava vir embutido no valor total da urna.

A identificação biométrica é outra aposta do TSE. Quase 50 mil eleitores de três municípios de Mato Grosso do Sul, Rondônia e Santa Catarina tiveram seus dedos e faces cadastrados por um equipamento de biometria. A idéia é que o eleitor mal perceba mudanças na hora de votar. Ao contrário do processo tradicional de votação, a liberação das urnas não é feita pelos mesários, mas pela leitura das impressões digitais do próprio eleitor. "Com a biometria nós tiramos o intermediário - o mesário - da liberação do voto; isso vai acelerar o processo", diz Janino. Paralelamente, o TSE quer eliminar a possibilidade de que uma pessoa vote por outra, evitando riscos de fraude.

No ano passado, o TSE comprou 25 mil urnas - a um custo de US$ 890 cada - já preparadas para a leitura biométrica. A quantidade já é suficiente para equipar todas as zonas eleitorais de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Segundo Janino, a Justiça Eleitoral tem 355 mil máquinas que, embora não contem com o recurso de biometria, poderão ser adaptadas. "Temos como acoplar um leitor biométrico e instalar o software de leitura das digitais", afirma. "É um equipamento barato, que custa cerca de US$ 15."

Neste ano, a preocupação ecológica também entrou em pauta. Desde 2004, o TSE não utiliza as urnas fabricadas em 1996. Há dois anos, 15 mil dessas máquinas foram doadas ao Paraguai, onde foram usadas em eleições. As limitações de uso ocorrem devido à obsolescência do processador da urna. "O chip não conseguiu mais comportar os sistemas de segurança, que ficaram mais complexos."

Hoje, cerca de 50 mil equipamentos fora de linha ocupam espaço dentro dos galpões dos tribunais regionais eleitorais, os TREs. Boa parte dessas máquinas está em Brasília. Janino conta que o TSE já designou uma equipe para cuidar da abertura de uma licitação para o descarte das urnas. "Estamos na fase de definição do que ainda poderá ser retirado para reutilização."

Componentes como tela de cristal líquido (LCD) e memória flash poderão ser reaproveitados. Também existe a preocupação com a destinação correta de substâncias como chumbo e demais materiais pesados. A licitação, de abrangência nacional, deverá ser publicada nos próximos meses. "Nossa idéia não é fazer lucro com a venda dessas máquinas", diz Janino. "O que queremos é fazer o descarte correto, sem que tenhamos custo."

Além do Paraguai, países como Argentina, Equador, Costa Rica, República Dominicana e México já fecharam acordo com o TSE para usar as urnas eletrônicas. (AB)