Título: Fabricante nacional acelera investimento
Autor: Manechini , Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 13/05/2008, Empresas, p. B8

Nem mesmo a política industrial do governo federal anunciada ontem deverá conter a enxurrada de equipamentos importados no país, que tende a crescer ainda mais com o impacto da obtenção do grau de investimento no câmbio. Enquanto as indústrias nacionais aceleram os investimentos em atualizações de seus parques fabris, visando o ganho de competitividade, os importadores projetam vendas maiores em 2008, apesar de reconhecerem que muitos clientes perderam poder de investimento nos últimos dois anos devido à depreciação do dólar.

De acordo com os dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) referentes ao terceiro trimestre, o volume de importações cresceu 44,6% no período, totalizando US$ 4,7 bilhões. Na opinião do presidente da entidade, Luiz Aubert Neto, o déficit da balança comercial do setor pode chegar tranqüilamente aos US$ 12 bilhões neste ano, o que representará praticamente o triplo do que foi apurado em 2006, US$ 4,7 bilhões.

"Com este patamar, não há política industrial que dê jeito", lamenta Aubert, que mesmo assim reconhece que o governo contemplou demandas antigas do setor de bens de capital, como prazos maiores de financiamento e alívio na carga tributária.

A Feira Mecânica, que começa hoje em São Paulo (SP), retrata bem a situação, com importadores apresentando máquinas até então sem preços competitivos no país e os fabricantes nacionais tentando se diferenciar dos estrangeiros, em especial dos asiáticos. "Temos de ter produtos avançados para fazer frente às máquinas importadas. É difícil, mas não há outra solução", admite Hermes Lago, diretor comercial de máquinas-ferramenta da Indústrias Romi, que lançará 13 modelos no evento.

Um dos principais trunfos das empresas que produzem no país é o pós-venda, já que muitos importadores não conseguem ter agilidade na prestação de assistência técnica. "Há uma relação muito próxima entre fornecedores e clientes. E a compra de bens de capital não se dá por impulso", ressalta o executivo.

Na outra ponta e sem reclamações em relação ao câmbio, a Bener, importadora de máquinas-ferramenta, inaugura seu novo centro de distribuição em Vinhedo, no interior de São Paulo. O investimento na unidade foi de R$ 5 milhões e permitirá um acréscimo de 700 máquinas às vendas deste ano.

"Nessa área, o crescimento médio de vendas variou entre 35% e 37%. Nós, com novos produtos, conseguimos 60% de avanço em 2007", comemora Paulo Lerner, diretor da empresa. Segundo o executivo, cerca de 80% dos equipamentos são trazidos de Taiwan. O restante vem da China, origem de importações mais criticada pelos players nacionais.

No setor de robótica, a suíça ABB trabalha com uma estimativa de crescimento de faturamento para este ano no país entre 20% e 30%, depois de apurar 60% em 2007. Para Ronaldo Venite, diretor de serviços da companhia, a busca por competitividade tem influenciado as vendas. "Como se trata de um produto importado, ficou mais barato adquiri-lo", diz. O executivo informa que nos últimos dez anos as vendas de robôs da ABB atingiram novos mercados, já que até então 80% dos robôs eram destinados às indústrias automotivas. "Atualmente, as montadoras representam 50%. Temos vendido até para fabricantes de torneiras", declara Venite, ao lembrar que um robô custa hoje US$ 25 mil, 21% menos do que há três anos, US$ 32 mil.

Durante a feira, a ABB irá focar setores como o de alimentos, bebidas e farmacêutico, além do automotivo com o lançamento de três novos modelos. "O fato é que o câmbio tornou os robôs mais acessíveis às indústrias nacionais de menor porte", conclui.

Mas nem todos os importadores se dizem animados com a desvalorização do dólar. Alcino Junqueira Bastos, gerente-geral da Okuma no país, detectou em alguns de seus clientes a falta de fôlego para investir em novas máquinas. "Estão com dificuldades". E acrescenta: "O ideal para nós é um patamar de R$ 2,20".

Com opinião semelhante, José Luiz Rubinato, diretor-geral da Yaskawa, acredita que o câmbio atual só favorece os importadores de máquinas prontas, o que não é o caso da empresa. "O fabricante não consegue exportar suas máquinas e eu não consigo vender para eles", argumenta. Alguns, de acordo com o diretor, deixaram de produzir no país desde o ano passado. "Passaram a trazer máquinas do exterior e, assim, tornaram-se apenas revendedores", complementa.