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Fonte: Valor Econômico, 13/05/2008, EU & Ivestimentos, p. D1

A ação da Petrobras atingiu o preço mais alto de sua história. A estatal é a quarta maior companhia de petróleo do mundo em valor de mercado. Pelo fechamento de ontem, valia US$ 267,5 bilhões, exatos US$ 14,7 bilhões à frente da anglo-holandesa Royal Dutch Shell e atrás apenas da americana ExxonMobil, da Petrochina e da russa Gazprom.

O investidor não precisa ser um exímio especialista para, diante de uma informação dessas, questionar se ainda há espaço para ganhos após esse pico. As informações do serviço financeiro da Thomson One Analytics apontam para um potencial de valorização de 22% sobre o fechamento de ontem, uma vez que a média dos preços-alvo de dez especialistas de mercado é R$ 56,12 e as preferenciais encerraram o pregão valendo R$ 45,75 - máxima histórica do papel, em valores ajustados pela inflação.

Dentre as maiores dúvidas do investidor está Tupi, a descoberta da estatal na Bacia de Santos anunciada em novembro passado e capaz de mudar o patamar do Brasil no cenário global de petróleo. Essa grande novidade já está no preço das ações? A resposta, infelizmente, não é tão simples, mesmo seis meses passados da primeira informação oficial sobre o campo.

Saber quanto vale a notícia tão comemorada não é tarefa simples. A própria Petrobras quer mais tempo e adiou para setembro a divulgação de seu plano de negócios para 2009-2013 por causa das descobertas.

Desde o anúncio, as preferenciais da Petrobras subiram 31%, enquanto o Índice Bovespa teve valorização de 10,8%. Mas tal dado não quer dizer que Tupi já está incorporado às cotações em bolsa.

Para analista Mônica Araújo, da Ativa Corretora, as ações ainda não absorveram por completo a informação. Ela disse que a razão para isso é simples: ainda existem muitas dúvidas em torno desse novo campo. "Há muita especulação sobre o real potencial dessas reservas e sobre a viabilidade econômica da exploração desse petróleo." Mônica refere-se à dificuldade adicional sabida para o aproveitamento desse óleo, que está numa região muito profunda, conhecida como pré-sal.

Além disso, é possível que os investidores não vejam no preço das ação um adicional na mesma proporção do potencial aumento de reserva que Tupi representa. A companhia tem hoje reservas de 11,7 bilhões de barris de óleo e gás equivalente. Tupi, segundo as estimativas fornecidas pela própria empresa, pode elevar esse número de 5,0 bilhões a 8,0 bilhões de barris. O aumento, portanto, pode beirar os 70%.

O especialista Felipe Cunha, da Brascan Corretora, comentou que, quando anunciado, Tupi representava um acréscimo de R$ 10 ao seu preço justo para a ação. Hoje, na verdade, seria equivalente a uma alta de R$ 5,00, já que as ações foram desdobradas. O especialista acredita que os papéis valem R$ 62,10. Mônica, da Ativa Corretora, está revisando os preços que estima para as ações da Petrobras. Por isso, não consegue dizer quanto Tupi pode agregar ao valor do negócio.

Além das incertezas envolvidas na exploração desse megacampo, Cunha explicou que a perspectiva de exploração de Tupi está num futuro distante para ter impacto no que os analistas chamam de valor presente do negócio. "Essa produção deve começar a entrar na empresa em 2013, com pico estimado para os anos seguintes."

Eliseu Martins, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), afirma ser normal que projetos de longo prazo tenham um valor atual pequeno. Isso porque para tentar estimar o lucro que uma empreitada pode trazer é preciso descontar o custo da oportunidade da aplicação do dinheiro no tempo. Dessa forma, quanto mais longe o fluxo de dinheiro que um projeto vai gerar, menor o montante equivalente hoje.

Nem quando o assunto é o passado significa que será mais fácil acertar. A Petrobras surpreendeu os analistas do mercado ontem ao anunciar um lucro líquido de R$ 6,9 bilhões no primeiro trimestre de 2008. O valor é 68% maior que o verificado no mesmo período de 2007, quando o resultado foi impactado pelo pagamento de R$ 1 bilhão para o fundo de pensão Petros. A menor valorização do real frente ao dólar também contribuiu.

O lucro operacional da companhia cresceu 32% na comparação com o primeiro trimestre de 2007 graças a um conjunto de fatores, que inclui o aumento de 80% no preço médio do petróleo comercializado, aumento da produção de petróleo (2%) e gás natural (11%), e o aumento de 8% nas vendas de combustíveis, mesmo com a parada programada da refinaria do Planalto (Replan), uma das maiores do país.

O preço médio de venda do petróleo subiu dos US$ 47,79 por barril verificados no primeiro trimestre de 2007 para US$ 86,13 por barril nos três primeiros meses de 2008. Já o preço médio de realização, que é a média dos preços de todos os combustíveis vendidos pela companhia, subiu 31%, passando de US$ 71,61 para US$ 93,78 entre o primeiro trimestre de 2007 e 2008.

Tais fatores explicam também a expansão da receita líquida da estatal, que subiu 21%, para R$ 46,9 bilhões. O resultado também foi ajudado por uma pequena redução do custo de extração que ficou em R$ 15,16 por barril contra R$ 15,22 por barril na comparação com o primeiro trimestre de 2007.

No primeiro trimestre, entraram no caixa R$ 6,4 bilhões, contratados no ano passado. O dinheiro servirá para bancar investimentos de até R$ 55 bilhões programados para o ano, um crescimento da ordem de 20% sobre 2007.