Título: Plano é vago sobre como atingir metas, diz economista
Autor: Grabois , Ana Paula ; Góes , Francisco
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2008, Brasil, p. A3

O plano de desenvolvimento produtivo anunciado pelo governo é positivo, mas carece de um melhor entendimento sobre como os incentivos ao investimento, excluindo os fiscais, serão operacionalizados, avaliou ontem o economista da PUC-Rio José Marcio Camargo. "Ainda falta saber quais são os instrumentos que o governo vai usar para atingir as metas estabelecidas", diz.

Ele elogiou a abrangência das medidas a diversos setores, mas vê uma escolha mais clara no setor de tecnologia da informação, contemplado com o desconto em folha de pagamento do INSS e juros mais baixos no BNDES. "Nos outros setores, não se sabe muito o que fazer. Beneficiar um setor é ruim. O setor de TI é intensivo em capital e mão-de-obra qualificada. Isso acaba gerando desigualdade de renda porque o governo está dando subsídio para quem tem mais renda", disse.

Com relação à meta de aumentar as exportações, Camargo levanta dúvidas se de fato a política vai se concretizar e criar condições para que as empresas se tornem competitivas diante do câmbio valorizado e da perspectiva de desaceleração do comércio mundial. Mesmo sem a política anunciada ontem, que tem como meta elevar a taxa de investimento sobre o PIB de 17,6% em 2007 para 21% em 2010, Camargo prevê que o investimento continuará em alta, ainda que venha a desacelerar.

Para David Kupfer, coordenador do grupo de pesquisa em indústria e competitividade da UFRJ, o conjunto de medidas é positivo porque tem como base um diagnóstico fino da indústria. "Há muito tempo que a política tinha que mirar simultaneamente o aprofundamento da inserção internacional das empresas que já são competitivas e fazer o miolo da indústria se aproximar do padrão de competitividade das que já estão no mercado internacional." Ele diz que a política de desenvolvimento vai favorecer a diversificação por não definir poucos setores.

A mudança de perfil do crescimento industrial no país, afirma, reside na inclusão de um grupo de segmentos contemplados nos programas mobilizadores em áreas estratégicas, formado pelo complexo industrial da saúde, tecnologias de informação e comunicação, energia nuclear, nanotecnologia, biotecnologia e complexo industrial de defesa. "São setores que precisam de muitos investimentos e não têm." Outro grande grupo eleito no programa para consolidar a liderança da nova política está bem, mas precisa dar saltos de produção, diz. É o caso do setor automotivo, que, para ele, precisa ter condições atrativas ao investimento.

Como crítica, Kupfer diz que a política de desenvolvimento deve avançar para além dos incentivos fiscais e financeiros e articular os diversos segmentos da indústria como, por exemplo, em grandes projetos de empresas estatais ou privadas.

O economista Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Comércio Exterior da Federação da Fiesp considerou que faltam à política medidas na área cambial, como uma linha de pré-embarque em reais para os exportadores com custo compatível às linhas de financiamento em dólar. A medida ajudaria a reduzir a oferta de dólar.