Título: Saída fornece discurso eleitoral à oposição
Autor: Barros , Bettina
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2008, Política, p. A7

O anúncio do desligamento de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente poderá beneficiar a oposição ao governo federal. Uma das avaliações é de que políticos dos quadros do PSDB e do PMDB, por exemplo, poderiam capitalizar votos na eleição.

"A questão ambiental será tão importante quanto qualquer outra nas eleições. Os políticos que se mostram sensíveis ao discurso ambiental poderão capitalizar votos", diz José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente da organização ambiental Conservação Internacional (CI), com sede em Belém. "O Aécio [Aécio Neves, governador de Minas Gerais pelo PSDB] é um exemplo. O Serra [José Serra, governador paulista também pelo PSDB], que está sendo bem assessorado e já dá passos nesse sentido, é outro", diz ele, lembrando ainda o nome do pemedebista Eduardo Braga, governador do Amazonas e mentor do bolsa-floresta, um novo modelo de gestão econômica da floresta considerado, por alguns, como um contra-ponto à inação federal. No passado recente, representantes do PMDB falaram sobre as pretensões do partido de ser uma "alternativa verde" ao Brasil, a exemplo do Partido Democrata de Al Gore nos EUA.

As razões do afastamento de Marina Silva, um ícone do movimento ambientalista brasileiro, podem abrir brechas para a oposição à direita e à esquerda do governo. O MST divulgou nota afirmando que "o governo Lula está em dívida com o povo brasileiro em relação à sua política ambiental".

A percepção generalizada é a de que a ministra cedeu à forte pressão dos "desenvolvimentistas" do governo federal, personalizados na figura de Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil e candidata virtual à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Pressão culminada com a coordenação do ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, no recém-lançado Plano Amazônia Sustentável (PAS), decisão interpretada como esvaziamento do poder do Ministério do Meio Ambiente. "Colocar o Mangabeira no Plano Amazônia Sustentável foi um tapa na cara dela", diz Frank Guggenheim, diretor-executivo do Greenpeace. "É uma pessoa que não entende nada, que falou bobagens como a da criação de um aqueduto da Amazônia para irrigar o Nordeste. Definitivamente, o rei está nu. Marina leva a roupagem verde do presidente Lula".

Para Cardoso, da CI, "o governo perde uma ministra da modernidade para manter uma ministra-candidata que olha para o passado. "Perde aqui dentro e lá fora. Quem conhece a Dilma lá fora? Ninguém. Quem conhece a autoridade de Marina Silva? Ela é uma referência internacional. "

Se quiser elementos para o ataque, a oposição encontrará muitos não somente nas organizações ambientalistas mas também no setor privado. Fernando Almeida, presidente-executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), grupo que reúne pesos-pesados da indústria, critica os rumos do desenvolvimento no país. "O governo infelizmente não percebeu ainda o senso de urgência da questão ambiental. Marina falava na transversalidade, na dimensão econômica, social e ambiental. O governo não entendeu o que ela dizia ou não botou em prática".