Título: PDT teme perder influência no Planalto
Autor: Jayme , Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2008, Política, p. A8
O PDT deverá perder força junto ao Palácio do Planalto se o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, for denunciado pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. A avaliação é de líderes da base aliada no Congresso Nacional. O parlamentar tem sido acusado de envolvimento em fraudes em repasses de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Hoje, a situação de Paulinho e do PDT na relação com o Palácio do Planalto já está no campo do constrangimento. Nada além disso, segundo as interpretações das lideranças partidárias. "Mas se o procurador-geral optar por denunciar o Paulinho, as coisas se complicam. O PDT ficará mais frágil", avalia o líder de um dos partidos mais importantes da coalizão.
O PDT é o partido da base de apoio ao governo com relacionamento mais sensível com o Planalto. O partido fazia parte da base aliada, rompeu com o governo e retornou em janeiro de 2007 (muito em função do trabalho de Paulinho, que estava de olho na aprovação das questões de interesse das centrais sindicais).
Ainda assim, a entrada nas fileiras governistas passou por cima de uma má-vontade da bancada de senadores, que até hoje causa problemas ao governo.
O líder do PDT no Senado, Jefferson Peres (AM), não deixa de dar declarações duras contra o Planalto sempre que discorda de alguma posição governista. O senador Cristovam Buarque (DF), que foi demitido do Ministério da Educação pelo telefone, quando estava em viagem ao exterior, representando o Brasil, costuma divergir do governo nas questões da área.
Na semana passada, o senador Cristovam articulou a ampliação dos ganhos com o piso nacional dos professores das escolas públicas a pensionistas e aposentados. O projeto agora tramita na Câmara dos Deputados.
Os afilhados políticos de Paulinho em cargos no governo também podem ficar em situação frágil. Por ora, não há qualquer intenção de trocá-los. De novo, se o Procurador Geral denunciar o deputado, a situação ficará delicada. "Ninguém deverá ser demitido. Mas, em um dado momento, se houver interesse em substitui-los, quem vai segurar?", afirma outro líder governista.
Até mesmo o PDT poderá não conseguir segurar o espaço político. "Depende muito de como o partido vai se comportar no caso de uma denúncia", completa o parlamentar. Entre os cargos ocupados por indicação de Paulinho, os três mais importantes estão em entidades na área trabalhista. Dentro do Ministério do Trabalho, Paulinho tem Luiz Antonio Medeiros na Secretaria de Relações de Trabalho e Ezequiel Nascimento na Secretaria de Políticas Públicas de Emprego. Além deles, Luiz Fernando Emediato comanda o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) por indicação do presidente da Força Sindical.
Hoje, o líder do PDT e presidente em exercício do partido, deputado Vieira da Cunha (RS), conversará com o corregedor da Câmara, Inocêncio Oliveira (PR-PE). A sigla está insatisfeita com as fortes declarações do pernambucano segundo as quais a situação de Paulinho é "gravíssima". Inocêncio tem anunciado também a decisão de tomar providências para análise do caso no Conselho de Ética.
"Vou me informar com o corregedor sobre a tramitação do caso do deputado Paulinho. Achamos que o melhor, neste momento, é ter cautela. Não se pode nem dizer que a situação é grave e nem que não há provas para incriminá-lo. A melhor postura é aguardar as investigações", diz Vieira da Cunha.
O líder do PDT diz que o partido, por ora, está do lado do deputado. "Ele se colocou à disposição do parlamento e do Ministério Público. Deu explicações", afirmou. Mas se o PGR optar por denunciar o deputado, a Executiva Nacional voltará a se reunir. "Historicamene, somos rígidos com preceitos éticos. E, agora, não será diferente. Mas queremos esperar as investigações. Não pode haver pré-julgamento", disse.