Título: Atual ciclo de aperto monetário será menor, afirma Meirelles
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2008, Finanças, p. C2

Meirelles: "É importante que a autoridade monetária tome as providências para que as expectativas de inflação continuem consistentes com a meta" O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sinalizou ontem em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado que o atual ciclo de aperto na política monetária será menor que os anteriores. "Os investimentos e o aumento da capacidade de importação fazem com que a economia tenha outra dinâmica", afirmou Meirelles. "Não eliminam os ciclos de política monetária, mas os tornam de outra amplitude."

O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC já havia dado indicações, em seus documentos oficiais, de que o aperto monetário será menos intenso que os anteriores, ao afirmar que a alta de 0,5 ponto percentual nos juros feita em abril representava parte relevante do movimento que pretende fazer na taxa básica.

De lá para cá, porém, parte dos analistas econômicos passou a contar com um ciclo mais intenso de alta de juros, diante dos dados que mostram a aceleração das medidas de inflação.

Meirelles não foi explícito sobre o quanto o BC pretende elevar os juros. Mas exibiu um gráfico em que mostra que, ao longo dos últimos anos, os ciclos de aperto monetário têm sido cada vez menores. No mais recente, feito entre 2004 e 2005, a taxa básica subiu 3,75 pontos percentuais. "Os ciclos de aperto monetário tendem a ter magnitudes menores", afirmou o presidente do BC. "Estamos caminhando para a normalidade."

Segundo ele, depois de concluído esse ciclo de aperto monetário, a taxa básica voltará a cair, atingindo níveis ainda mais baixos do que os vigentes anteriormente. Ele ressaltou, porém, que a queda dos juros no médio e nolongo prazo dependerá da firmeza do BC em combater os surtos inflacionários. "Faremos o que for preciso para controlar a inflação." Meirelles procurou mostrar, em diversos momentos de seu depoimento, que a economia vive uma genuina aceleração inflacionária, que exige uma resposta, e não apenas uma alta temporária dos preços de alimentos. "É importante que a autoridade monetária tome as providências para que as expectativas de inflação continuem consistentes com a meta."

Em rápida entrevista logo após o depoimento no Senado, Meirelles não negou, mas também não confirmou, que pretende ser candidato a governador de Goiás, Estado pelo qual se elegeu deputado federal em 2002 pelo PSDB. "As regras do BC prevêem um período de quarentena para quem deixa a diretoria colegiada", afirmou. "Esse será o momento adequado para decidir o meu futuro profissional."

No depoimento, a política monetária do BC foi elogiada por senadores de oposição. "É importante parabenizar o BC pela prudência de subir a taxa de juros agora", afirmou o senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (PFL-BA). "A boa condução da política monetária foi fundamental para que o país ganhasse o grau de investimento", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Meirelles foi questionado por senadores da base governista, como Aloizio Mercadante (PT-SP), sobre a valorização do real e a volta dos saldos negativos em conta corrente. "Não podemos prolongar ao longo do tempo déficits em conta corrente", admitiu o presidente do BC. "Não sabemos os limites (dos déficits em conta corrente), os mercados é que vão dizer os limites."

Meirelles atribuiu a volta do déficit em conta corrente ao aumento da demanda doméstica - e disse que, ao elevar os juros, o BC contribui para reduzi-lo ao longo do tempo. "O déficit em conta corrente é resultado de um aumento da demanda doméstica, quando o mundo se desacelera", afirmou. "A política monetária cumpre seu papel ao lidar com a demanda interna, visando equilibrar esse processo (o déficit em conta corrente) ao longo do tempo para que não haja desequilíbrio permanente."

Meirelles disse que um eventual aumento da meta de superávit primário, hoje em 3,8% do PIB, daria uma contribuição para aliviar a sobrecarga na política monetária. Ele disse que essa é uma discussão "virtuosa", mas ressaltou que o assunto não é uma atribuição do BC. "Não há dúvida de que um superávit primário maior teria um efeito positivo sobre o custo de captação do Tesouro e sobre as taxas de juros do mercado."