Título: Efeito CDB
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2008, EU & Investimentos, p. D1
Os esforços dos bancos em captar recursos via Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) já começam a trazer impactos para o setor de fundos de investimento. Dados do site financeiro Fortuna mostram que o ingresso de dinheiro no segmento já registra desaceleração e mesmo entre os fundos DI, que vinham apresentando forte captação, já há resgates. Em maio, até o dia 9, o setor de fundos acumula saídas de R$ 3,466 bilhões, dos quais R$ 2,042 bilhões foram resgatados de DIs.
Os números chamam a atenção quando se observa o ritmo de ingresso de recursos em fundos DI no ano. Em janeiro, por exemplo, R$ 9,984 bilhões foram destinados para a categoria, conforme o Fortuna. Em fevereiro, foram outros R$ 5,261 bilhões e, em março, R$ 1,529 bilhão. No mês passado, a enxurrada de recursos começou a secar e a categoria captou R$ 677 milhões. Agora, em maio, já é possível ver resgates, enquanto os CDBs captam R$ 32,554 bilhões.
Quando se analisa o setor como um todo, percebe-se que as saídas de fundos são ainda maiores. Os saques líquidos no segmento chegam a R$ 5,415 bilhões levando-se em conta todas as categorias de fundos, mas excluindo-se as carteiras previdenciárias (fundos de pensão), as aplicações voltadas somente para estados e municípios (poder público), de previdência (planos abertos), de privatização (com recursos do FGTS), de participação e outros (onde estão os fundos de recebíveis, os FIDCs).
Mas será que é realmente um bom negócio resgatar de um fundo DI e migrar para um CDB? "Depende", responde a consultora Marcia Dessen, da Bankrisk. Suponha um investidor com uma aplicação de R$ 300 mil e que consiga 100% da variação do CDI num CDB. Considerando-se a Selic estável, somente para simplificar o cálculo, o investidor receberia como retorno os atuais 11,75% da taxa básica de juros. Caso estivesse num fundo de investimento DI com taxa de 1,0% ao ano, o rendimento bruto seria de 10,75%. "Para dinheiro novo, que não está investido em outra aplicação, está clara a vantagem em termos de rentabilidade", diz Marcia. Já para quem está num fundo DI há menos de seis meses, é preciso levar em conta também a alíquota de 22,5% de imposto de renda. Esse percentual seria reduzido em 7,5 pontos percentuais se o investidor permanecesse por mais de dois anos, com a alíquota caindo para 15%.
A consultora lembra, no entanto, que num CDB o investidor está concentrando o risco numa única instituição, o que não acontece com um fundo, que aplica em papéis públicos e privados. É preciso levar em conta também a liquidez, já que a maioria dos bancos pede um período de carência para o resgate em CDBs. Além disso, esses papéis dos bancos têm um prazo determinado e, ao vencer, precisam ser renovados, o que faz com que o aplicador pague imposto de renda toda vez que reaplicar e tenha de reiniciar o prazo para redução do imposto.
Esse movimento de saída de fundos para CDBs deverá permanecer por mais algum tempo, avalia Paulo Werneck, diretor da asset management da Icatu Hartford. Ele lembra que essa saída de recursos de fundos de investimento começou com os resgates em multimercados, quando muito investidores, que não tinham a noção exata do risco dessas carteiras, sacaram diante de desempenhos ruins. Para fugir da volatilidade, grande parte desses aplicadores migrou para fundos DI. Mas os bancos começaram a pagar taxas de retorno bastante atraentes para CDBs, concorrendo com os fundos e, agora, até retirando recursos do setor.
Um dos fatores que fizeram as taxas pagas em CDBs subirem foi a crise internacional com os papéis "subprime", o que dificultou a captação dos bancos no exterior. Com isso, a saída foi captar mais dinheiro aqui, pressionado as taxas. Depois, no início de fevereiro deste ano, o Banco Central fixou um compulsório sobre os recursos repassados pelas empresas de leasing para os bancos, que usavam esse dinheiro para financiar empréstimos. Em meio a todo esse aperto de liquidez, as carteiras de crédito crescem, acompanhando o aquecimento da economia.
E, para ajudar, com o aumento das taxas pagas pelos CDBs, os fundos, principalmente os DIs, precisaram marcar a mercado esses papéis. Com os juros desses papéis subindo, os papéis antigos nas carteiras dos fundos, com juros mais baixos, perderam valor, trazendo perdas, lembra Werneck. "O investidor, então, resolveu migrar para o CDB, em que ele não vê volatilidade", diz.
Mas as maiores taxas dos CDBs também irão beneficiar os fundos que têm esses papéis em carteira, lembra Marcelo Giufrida, vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). "Essa realocação do investidor é normal diante das taxas melhores pagas pelos bancos", diz. É natural que esse dinheiro volte para o setor, no entanto, dada a praticidade dos fundos, onde a liquidez é diária, na maior parte das vezes.