Título: Carlos Minc aceita comandar Pasta do Meio Ambiente
Autor: Romero , Cristiano; Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 15/05/2008, Política, p. A5

Convidado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o secretário do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, Carlos Minc (PT), substituirá Marina Silva no comando do Ministério do Meio Ambiente. Minc era, desde a demissão de Marina, na terça-feira, a primeira opção de Lula, mas, por pouco, não foi descartado. Na noite daquele dia, o presidente foi convencido por petistas de dentro e de fora do governo a convidar o ex-governador do Acre Jorge Viana (PT).

Tão logo Marina Silva pediu demissão do cargo, Lula decidiu nomear Minc, um dos fundadores do Partido Verde (PV) no Brasil e hoje filiado ao PT. Na tarde de terça-feira, o presidente telefonou para o atual chefe de Minc, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), e perguntou se ele poderia liberar o atual secretário de Ambiente. Entusiasmado com a perspectiva de seu Estado ganhar mais um ministério, ampliando sua presença no governo federal, Cabral cometeu uma gafe - deu entrevistas dizendo que Minc seria o novo ministro.

Como Lula ainda não havia feito o convite a Minc, um grupo de petistas se mobilizou para tentar convencer o presidente a desistir do secretário fluminense e a convidar Jorge Viana, hoje um bem-sucedido executivo no setor privado. O presidente concordou, então, em fazer da nomeação de Minc seu plano B.

Mesmo sem acreditar numa resposta positiva de Viana, o presidente Lula o chamou para uma conversa na manhã de ontem. No encontro, antes mesmo de esboçar um convite, o presidente quis saber do ex-governador como ele estava se sentindo na iniciativa privada. Viana respondeu que estava "muito feliz" com os "desafios" que está vivendo - ele preside o conselho de administração da Helibrás, uma fabricante franco-brasileira de helicópteros, e assessora o conselho de administração da Aracruz Celulose.

Percebendo, durante a conversa, que Viana não estava animado com a perspectiva de substituir Marina Silva, sua aliada política no Acre, Lula nem sequer formulou o convite ao ex-governador. "Não havia entusiasmo de nenhum dos dois lados", contou um auxiliar do presidente. Quando o grupo de petistas procurou Lula sugerindo o nome de de Jorge Viana, o presidente desconfiou que ele não aceitaria o convite. Deixou a conversa correr, mas sem conseqüência. "Se você acha que está bem onde está, tem que ficar onde está", comentou o presidente, segundo relato de assessores.

Lançada na conta do PT, a ofensiva pró-Jorge Viana foi mais uma ofensiva de ministros e assessores petistas de Lula, todos eles com assento no Palácio do Planalto. O secretário-geral Luiz Dulci, o chefe de gabinete Gilberto Carvalho e o assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, defenderam a nomeação do ex-governador do Acre. A ministra Dilma Roussef (Casa Civil) ficou com o grupo, mas não exibiu o mesmo entusiasmo dos colegas. Já o ministro da Justiça, Tarso Genro, defendeu a escolha de Minc.

O argumento do grupo em favor de Viana não era anti-Minc, mas o aumento da influência do governador Sérgio Cabral na Esplanada dos Ministérios. Cabral riu do raciocínio. O ministro José Gomes Temporão, da Saúde, embora esteja na sua cota de indicações, foi assumido pelo governador do Rio a pedido do presidente. É uma indicação, portanto, de Lula.

Especificamente no PT, os congressistas do Acre, terra tanto da ex-ministra Marina Silva como de Jorge Viana, é que pressionaram para manter o ministério com o Estado. Na cúpula do PT o que se informa é que, se dependesse do partido, nem Minc nem Viana substituiriam Marina. Minc é um egresso do PV, enquanto Viana nunca contou com o apoio da seção mais poderosa da sigla - São Paulo. A direção petista avalia que Lula e o governo perderam muito com a saída de Marina, que deixou um espaço que dificilmente será preenchido, interna e externamente, por carlos Minc.

Cotado várias vezes para ocupar um cargo no primeiro escalão do governo Lula, Viana chegou a ser convidado pelo presidente para substituir Marina na virada do primeiro para o segundo mandato. Na ocasião, Viana declinou da oferta, alegando que ficaria constrangido em tomar o posto que pertencia à Marina. Na verdade, segundo sustentam assessores de Lula, Viana não aceitou porque esperava ser convidado para assumir um cargo mais importante - a Chefia da Casa Civil ou o comando da articulação política.

Fracassada a sondagem ao ex-governador do Acre, o presidente retomou seu Plano A. Exatamente às 3h45 da tarde de ontem, telefonou para Carlos Minc, que estava em Paris, e formalizou o convite, aceito imediatamente. Ficou acertado que, na segunda-feira, o futuro ministro irá a Brasília para conversar com Lula. Antes de aceitar o cargo, Minc verificou com Sérgio Cabral onde estava pisando. O novo ministro é um entusiasta do programa de biocombustíveis, a menina dos olhos de Lula.