Título: Ecologistas do Rio vêem jogo de cintura
Autor: Durão , Vera Saavedra ; Góes ,Francisco
Fonte: Valor Econômico, 15/05/2008, Política, p. A6
Um dos principais desafios do novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, será encontrar um caminho para transitar no "establishment" político de Brasília, onde é um estrangeiro. A dificuldade, segundo pessoas próximas a Minc, está no fato de que a política ambiental e o desenvolvimento sustentável não dependem só do Ministério do Meio Ambiente, mas do governo como um todo. E neste cenário, para compatibilizar o desenvolvimento econômico com a questão ambiental, Minc terá que ter o apoio de outros ministérios. Caso contrário, poderá ficar isolado, como aconteceu com a sua antecessora, Marina Silva.
Alfredo Sirkis, presidente do Partido Verde (PV) no Rio, considera que um dos trunfos do futuro ministro é ter "jogo de cintura" depois de cinco mandatos consecutivos como deputado na Assembléia fluminense. Também pesam a favor dele o apoio do governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o convite direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que assumisse o cargo. "Foi uma escolha coerente pois Minc é o verde do PT", disse Sirkis referindo-se à condição de o ministro ser ambientalista e ligado ao PT desde 1989. O PV promete apoiar Minc, assim como fez com Marina, sem evitar eventuais críticas à gestão do novo ministro.
Lizst Vieira, presidente do Jardim Botânico do Rio e filiado ao PT, nega que Minc tenha sido vetado pelo partido, como se noticiou. "Não sei de onde tiraram isso. Ele não é da máquina, mas o PT não tem nada contra ele. Minc é um bom nome e carrega 20 anos de trabalho na área ambiental", disse Vieira. Na avaliação dele, Minc tem um perfil diferente da ex-ministra, é mais urbano mas conhece a agenda ambiental brasileira. Mesmo sem ter experiência na questão amazônica, ele certamente saberá como tratá-la, avaliou.
De qualquer maneira, tanto Sirkis quanto Vieira prevêem que Minc enfrentará no Ministério pressões muito mais complexas relacionadas ao país do que aquelas com as quais lidou em quase um ano e meio como secretário de Ambiente fluminense. No Rio, Minc imprimiu a sua marca. Por um lado, manteve o "xerifismo ambiental", com ações que lhe garantiram constante espaço na mídia, como o combate a construções irregulares no litoral do Estado e na própria cidade do Rio.
Outra iniciativa de Minc foi a aprovação de projeto na Assembléia reduzindo as exigências para plantio de eucaliptos. A medida não foi fonte de atrito político porque visa a criar alternativa econômica para áreas desertificadas no Norte fluminense, região mais pobre do Estado. Na sua gestão, ele também conseguiu rapidez na concessão de licenças ambientais para grandes empreendimentos de interesse do governo.
Luiz Pinguelli Rosa, secretário- executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e Diretor da Coppe/UFRJ, elogiou Minc pela iniciativa de reestruturar os órgãos de meio ambiente estaduais com o objetivo de reduzir a burocracia das licenças ambientais. "Ele está criando um instituto novo formado pela fusão da Feema, do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e da Serla (Superintendência de Rios e Lagoas) para agilizar as decisões na área de meio ambiente. O novo órgão deve começar a funcionar em setembro". Rosa adiantou ainda que Minc passou a exigir de construtores de usinas hidrelétricas uma contrapartida de aplicação de um percentual do investimento total na usina num projeto de geração de energia renovável.
Tanto Rosa quanto Lizst Vieira apontaram o desmatamento da Amazônia como o mais grave problema climático e ambiental do país, que foi enfrentado por Marina Silva sob muitas pressões. O presidente do Jardim Botânico citou pecuária, soja e madeireiras como as maiores vilãs da floresta. "São interesses econômicos poderosos", afirmou. O diretor da Coppe/UFRJ, que divulgou uma nota lamentando a saída de Marina Silva, acha que esta será uma tarefa dura para Minc. "No governo, a dificuldade de execução coloca a necessidade da negociação. Assim, ao invés de não se fazer nada, se faz pelo menos a metade do que se pretende. Vamos ver o que o Minc vai fazer. Desejo-lhe boa sorte", disse o diretor da Coppe/UFRJ.