Título: Oposição comemora desgaste e repercussão internacional
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 15/05/2008, Política, p. A9
A oposição comemora o desgaste e a repercussão internacional negativa causados ao governo Luiz Inácio Lula da Silva pela saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, principalmente porque o episódio expõe divergências graves existentes entre setores do governo.
O fato de a ministra ter muito prestígio internacional e ter deixado o cargo por causa das derrotas que acumulou no governo joga luz sobre o choque existente entre facções do PT - o que é bom para a oposição. "O conflito é intestino", definiu um senador do DEM. Lideranças do PSDB e do DEM não gostaram da reação de congressistas da oposição ligados ao setor rural que criticaram a atuação da ministra à frente do ministério.
O ideal nesse momento, dizem, é prestigiar Marina Silva e deixar que o governo se desgaste sozinho. A oposição vê outro aspecto positivo: com a volta dela ao Senado, deixa a Casa seu suplente Sibá Machado (PT-AC), tido como um parlamentar que atua na defesa dos interesses do governo com menos liberdade e autonomia que a ex-ministra deverá fazê-lo.
"O governo ficou prisioneiro de pressões econômicas, de um lado, e pressões de teóricos inconsistentes de outro. Foi pendular. E não manteve a preservação do meio ambiente", definiu o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). "O governo conhecia as convicções de Marina e nunca as respeitou. Permitiu que fossem contestadas em nome de interesses que terminaram por levá-la para a fogueira", disse o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).
Marina vai encontrar um ambiente favorável em seu retorno ao Senado. Ela tem sido elogiada pelos colegas da oposição e da base aliada. Ontem, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) leu no plenário a carta de demissão encaminhada pela ex-ministra ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com queixas das dificuldades que enfrentou "para dar prosseguimento à agenda ambiental federal". Vários senadores manifestaram solidariedade a Marina, pelo segundo dia consecutivo.
Já a escolha de Minc não agradou parte dos parlamentares da base aliada do governo, que defendia o nome do ex-governador Jorge Viana (PT-AC) para o cargo pelo seu histórico na defesa do ambiente. Os parlamentares admitem, nos bastidores, que a indicação de Minc mostra a disposição do governo federal em priorizar o desenvolvimento do país, com a execução de obras que muitas vezes põem em risco o ambiente. Oficialmente, porém, os parlamentares mantêm o discurso de que não há uma disputa dentro do governo entre os ambientalistas e os chamados "desenvolvimentistas".
"Não quero tratar isso como uma queda de braço. Não há nenhum desenvolvimento possível sem respeitar o meio ambiente. O Jorge Viana, por ser da Amazônia, talvez diminuísse os impactos de três situações dentro do governo: os conflitos na reserva Raposa/Serra do Sol, a absolvição dos assassinos da irmã Dorothy e a saída da ministra Marina", disse a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).
O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), disse esperar que o novo ministro consiga reduzir as resistências dentro do governo à implantação de políticas ambientais. "Eu não o conheço muito bem, mas acredito que tenha sido uma boa escolha porque vem de um trabalho realizado no governo do Rio, que tem o governador Sérgio Cabral à frente", afirmou o senador. (Com agências noticiosas)