Título: Diminuta, mas aguerrida
Autor: Silveira, Igor; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 19/02/2011, Política, p. 4

A oposição conduziu bem a questão do salário mínimo ou faltou unidade? A oposição mostrou que será combativa e terá uma postura aguerrida, independentemente da quantidade de deputados e senadores, e não será medida pelo tamanho, mas pela qualidade do trabalho que pode fazer e pelo enfrentamento no debate político. Isso nós fizemos bem durante a votação do salário mínimo. Não faltou unidade, pelo contrário. Votamos a proposta do PSDB e eles votaram com a nossa proposta. Mas claro, cada partido se dirigiu de acordo com uma lógica. O PMDB resgatou um compromisso eleitoral e o DEM com uma visão um pouco mais prática e pragmática. O que justificou o resultado foi a força do governo que está começando agora, que tem uma maioria esmagadora. É natural que, na primeira votação, os deputados ainda se sintam intimidados pela pressão do governo.

De que forma essa força do governo pode interferir nos trabalhos do Legislativo? Na Câmara, não vai haver diferença para os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva porque eles já tinham maioria folgada. Lula nunca teve dificuldades para aprovar matérias na Câmara. A diferença estará no Senado. A maioria do governo no Senado dá conforto para que a presidente Dilma dependa menos da negociação naquela Casa.

O senhor parece ocupar um posto complicado, porque, além de ser líder de uma sigla da oposição, pertence a uma legenda que tem enfrentado problemas internos complexos¿ Eu nunca trabalhei tanto como agora. Quando me elegi líder, em 31 de janeiro, o DEM estava fraturado. Obtive uma maioria folgada, mas a divisão era clara. Inclusive, me elegi contrariando uma lógica predominante até dezembro. Viramos o jogo dentro da legenda. Mas, depois da eleição, no ato da posse na Liderança, eu disse que colocaria um ponto final na divisão do partido e iria trabalhar nos limites da minha força para construir a unidade. Dediquei os últimos dias a conversas. Da boa vontade de todo mundo, conseguimos produzir um entendimento que poucos apostavam que iria acontecer. Quem viu o retrato do DEM em janeiro imaginou que a sigla estava rachada definitivamente. Graças à maturidade da grande maioria dos integrantes do Democratas, revertemos essa situação. Montamos uma Executiva que contempla todas as alas. Formamos uma chapa de consenso.

Esse consenso inclui o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab? Caso ele resolva deixar a legenda, vocês entrarão na Justiça para garantir o mandato? O que pode fazer Kassab ficar ou não no Democratas não passa pelas questões internas do partido. Eu perguntei a ele. A decisão dele passa por questões políticas de São Paulo. Por enquanto, ele não decidiu sair e faremos todos os esforços para que ele fique e, portanto, não partirei agora para qualquer tipo de ameaça nesse sentido. Não é a hora de se discutir isso, só depois, se ele realmente decidir sair.

No DEM, o senhor é um dos que demonstra interesse em dialogar com a presidente Dilma Rousseff. Como ter essa conversa sem interferência no posicionamento da legenda? Não ha dúvida do meu compromisso de fazer uma oposição viva e consistente. A votação do salário mínimo foi um exemplo disso, porque permitiu que expuséssemos as fraturas do governo e marcássemos nossa posição muito claramente. Porém, estou disposto a dialogar em torno de uma agenda para o país. A presidente quer discutir assuntos tributários, segurança pública, correção da tabela do Imposto de Renda? Pode ser que haja pontos de convergência. Mas haverá motivos para embate, e faremos isso. No entanto, nada impede que, onde haja uma visão coincidente, avancemos na mesma direção. Isso não significa diminuir em nada o tom da oposição.